segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

 

Sem medo de colher o meu plantio

 

Semeei minhas estórias

Para a história de meu tempo...

Assumi minhas derrotas

Entre meus contentamentos...

Argui minhas dúvidas

Ao meu assentimento...

Passeei por vias tortas

Procurando meus instintos

De como reviver memórias

Neste labirinto...

Concluo que o tempo audita

O desperdício da forma,

Onde a norma é bendita

E me conforma...

 

Viajando a paisagem

 

À minha frente o mundo

É pequeno...dele só vejo pedaços,

Tentando adivinhar o invisível

Fora de meu raio de visão...

Depois da esquina outra esquina,

Depois do morro outro mundo...

Cada paisagem o pensar profundo,

Talvez haja novidade além de muros,

    Tenho meus medos a novos estudos...

Talvez um rio, uma ponte, silêncio?

Pode seja apenas o som de um fio

Em provimento...

 

 

 

Quanto a mim

 

Quanto a mim

Bem sei que venci paradas

E estou aqui...

Quanto a mim

Perambulando pelas tardes

Não me perdi...

Quanto a mim

Lendo abolicionistas

Encontro valores perdidos

Nas desaguas...

Mas o tempo limpa

As enxurradas deixadas

Pelas chuvaradas

E torna o chão outra vez

Liso e afeito às causas...

No meu silêncio

 

No meu silêncio grito alto

As vontades resistidas...

Talvez a parte mais lúcida

De nossas vidas...

Neste silêncio e seu alarde

Me vejo grande dentro da tarde

Em que voamos

Sem asas púrpuras,

Apenas asas...

Em tal silêncio a grita esparsa

O susto dos passarinhos

De das lagartas...

No meu silêncio a vida aparte,

Como arte...

 

Efêmeros

 

O homem cria,

Mas não é o deus

De sua criatura...

Às vezes nem tem

Tal estatura,

Que possa arcar

Com sua figura...

O homem cria,

Na cria se recria

Entre fracassos

De aventuras

E a forma lânguida

Com que esturra

A face verdade

De sua altura...

Os maus elementos

 

Terra, água, fogo, ar...

Às vezes esses elementos

Se rebelam,

Inundam vales de profundo esgar...

Montanhas cospem fogo,

Marés invadem além-mar,

E o ar, neste refogo

Faz a terra nos aterrar...

Talvez sejam sobras do logro

Que maus elementos

Põem a somar...

Terra, fogo, água, ar

Se combinam em esmarridos

Soluçar...

 

Agulhas

 

Fiando minhas verdades

Neste tecido arrazoado,

Prego botões zipando atos,

Costuro barras aviadas...

Quero a perfeita costura

De meus atos agulhados...

Em plena tarde de sóis

Percorro a luz da janela

Arrematando os lençóis

À espera dela...

 

 

 

 

 

Corte e costura

 

A moda

Não é lançada por costureiros,

Senão pela necessidade

De angariar madames,

Quando um senhor

Com suas agulhas

Se esforça para satisfaze-las...

Talvez seu conceito

Seja diverso destes,

Mas tem de vesti-las princesas

Em cada seu momento,

Assim se conversam e se convertem

Em apadrinhados de momentos,

E fazem renda e rendilhados

À força de entendimentos...

 

 

Num tempo em que espelho

Não era tão sincero

O relógio já marcava horas,

Mas não doía tanto...

 

 

 

 

Trem noturno,

Qual estação se abre

À solidão da madrugada?

 

 

 

 

 

 

Um cisco na folha do livro,

Um inseto morto

Ou marcador de página?

 

 

 

 

 

A manhã de hoje se enternece

Lembrando outras, de quando

Manhãs apagavam lampiões...

 

 

 

 

 

 

A palavra sincera dói,

Mas cicatriza...

 

 

 

 

 

Onde eu estava quando

A vida começou em mim?

 

 

 

 

 

 

Que mal faz que não seja

 

Nestes dias insinceros

Vivemos o faz de conta,

Que o tempo que perdemos

Nos seja realidade,

Aqui não conta...

Que mal faz que não seja

Branco o amarelecido?

É sujeira de um tempo vivido,

Desguardado ao relento...

Que já não preste...

Que mal faz que não seja

Límpido o chão chuvado,

Se ainda não enxurrou

O desaguado?

 

 

 

Que bom seria, a tempo,

O vidro não se medrasse,

E mesmo o tendo esquecido,

Inda brilhasse...

Que mal faz que não seja

Se o tempo amareleceu

Nossas vontades?

Inda sonhamos, nos sonhos,

Nossas verdades...

SERGIODONADIO

 

 

 

 

 

O menino sábio

 

Eu, adulto,

Queria que se matassem

Todas as barbaridades,

Os que as cometessem,

Os que as aceitassem...

Malgrado as seitas,

O eu menino em mim,

Que persiste, inda que tarde,

Me diz:

         -Espera, que a raiva passe...

Perdoa, que tem perdoam tanto,

Pelo muito que aprontastes...

Pelo que vieste, pela descoragem,

O eu menino tem preces

Que o eu adulto nem sabe...

 

 

Importa a mim as verdades

Que as mentiras trazem...

 

 

 

 

 

Tens de falar o que pense,

Antes que se dispense...

 

 

 

 

 

 

 

 

Tudo é válido nas teorias,

Mesmo que a ordem

Dos fatores negue...

 

 

 

 

Pensei que meus óculos

Estavam sujos, tirei-os,

A visão continuou

Turbada...

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário