terça-feira, 24 de janeiro de 2023

 

                                       Casos e causos

 Pela minha percepção, sem floreios, casos são verídicos recontados, causos são inventados não vividos. Então, indo ao ponto, dedico esses casuísmos aos meus contemporâneos, que persistem em avançar idades, em series de memoriais inibidos antes, soltados agora, nessas sete décadas de desacertos, remendados de casos, vividos, a causos, desmembrados de sonhos, deixados na gaveta das intenções vencidas pelo cansaço de ilusões desiludidas ao tempo requentado de fornos apagados de ontens... Dedicando aos setentões palavras de convívios, inda relembrados com sorrisos, ou sarcásticos risos anedóticos sobre tropeções assumidos, ou não, daqueles dias convulsionados pelas urgências das fomes diversas, aventureiras e prolixas de retalhos de fatos e boatos. Segundo estatística, todos os dias se locupletam por guerras, pessoais ou impessoais, dos avizinhados ou do outro lado do mundo, que nos afetam o juízo dos porquês de suas existências. Nascidos nos pós segunda grande guerra, nós, desta geração, amiúde nos perguntamos: O que tenho com isso? Ao mesmo tempo somos parte das escaramuças, e nos distanciamos da responsabilidade, pela distância dos fatos, mesmo aos afustuados na vizinhança de nossas vidas, corridas e escorridas nos suores da sobrevivência de cada um. Guardamos nossos casos e nossos causos nesta memória de distâncias, nessa idade em que não guardamos ocorridos de hoje, por desnecessários ao convencimento de reais motivos. De fatos e não fatos vivemos a pensar nessas décadas de arranhões na pele e na alma, de nossas cicatrizes, teimosamente reincidentes na inconsciência de os ter vividos. Na idade em que estamos as importâncias de ontem se desimporta por agora, nesta ebulição de motivos os relacionados a comorbidade se tornam essenciais, ante outras dores ou prazeres possíveis. Caros, é hora de curtir a ausência de barulhentas companhias, que preferem sons pesados, modos deseducados, atos impensados... terão uma vida toda para se reconhecerem tão chatos quanto nós, em nossa idade, no momento de atingirem este ponto sem retorno, a saber o que inda não sabem, a perceber a chatice da chamada “melhor idade”, esta última idade na contagem regressiva dos tempos vividos e sem retorno ao esquecido de viver, quando se verão, como nós hoje, afunilando segundos, mancando passos e ideias,

Pedros, Zés Maria, Marias José, Dalcis, Vilsons, e tantos outros teimosos em continuar respirando, mesmo que doa, consolemo-nos porque a outra opção seria ter deixado de respirar antes de envelhecidos, mas igualmente envilecidos, rsrs...

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