quinta-feira, 6 de maio de 2010

catullês

Quando ouço certos discursos, falando um português enrolado(às vezes em economês, outras vezes em politiquês) lembro, com saudade, do Catullo da Paixão Cearense, que, respondendo a um poeta sulista, sobre seu linguajar caboclo, disse:”Cante lá que eu canto cá”. Era sua explicação para o coloquialismo de seus versos, entendidos por todos, enquanto os ícones da literatura criavam malabarismos Inatingíveis em sua lingüística refinada. Assim ouço ou leio os discursos rebuscados de líderes elitistas. Pequenos burgueses intelectualizados, que sobem à tribuna para derramar citações buscadas nas empoeiradas estantes de seus gabinetes, como faz costumeiramente o senador Mão Santa. Pretensos proletários, que, querendo representar o partido dos trabalhadores, como o caso do ministro Tarso Genro, derramam termos que insultam a classe, como a “referencia fundante “ que ele expeliu em seu palavreado nada claro, cheio de”transgressões etárias”.
Agora, sobre o trabalho do delegado Protógenes no caso do testa de ferro Daniel Dantas, quando ministros dedam a espetacularização da fulanização obstaculando seu trabalho, porque o delegado teria conseguido informações (secretas)da ABIN sobre o verdadeiro dono de tais valores. Mas, senhor Ministro, o documento não é forjado!(como são as palavras para desvio de atenção ao verdadeiro toque na ferida).
Então, frente à razão que a própria razão desconhece, prefiro ficar com o Catullo, que, no seu catullês dá um recado:-Haveis de ver, sonhadores/que de retalho em retalho/andais cosendo uma colcha/de quimeras...ilusória.../um dia, sem dor, sem mágoa/que ela, a glória, a pingo d’água/nos braços do desengano/esse proxeneta rufião/vos deixará solitários/como eternos visionários/com uns farrapos de sudários/para enxugardes as lágrimas/da vossa desilusão.
Assim sendo, e por ser a vida um corrimão só de ida, quando esses discursistas acordarem para a realidade de que é preciso ser de fácil entendimento o que se diz e se escreve, mesmo para eles próprios, que às vezes não lêem o que escreveram, um recado muito claro e coloquial:”escreveu, não leu, o pau comeu”.
Nisso tudo, há mais do que dificuldade de entendimento. Há dificuldade de compreensão, que procriará dificuldades de pensar. Que o raciocínio do ouvinte ou leitor, pressionado pelo desvio de intenções de palavras difíceis, desiste de pensá-las racionais, e, com isso, desiste de opinar ou julgar tais atos. O grande furo na água será o estar falando sozinhos , que já assistimos desoladoramente nas sessões congressuais.

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