segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre gravatas e pescoços

O Deputado Nelson Camata viu reprovado seu projeto de acabar com a obrigatoriedade do uso de gravata, no Parlamento. Por que será? O episódio lembra Graciliano Ramos: “um silêncio grande envolve o mundo, contudo o que me aflige não é uma voz, é a gravata apertando o pescoço”... metaforicamente a gravata que aperta pescoços não se materializa nessa tira de tecido, mas muito mais, nas vozes do silêncio(grande)que tantos pescoços sofrem, por suas culpas inculpáveis perante os meandros da lei e da ordem estabelecida. Essas vozes apontam, em silêncio, as falcatruas de nossas lideranças, numa conspiração a perseguir insones, que se vêm dedurados por sua (in)consciência.
A vida real muitas vezes imita a ficção, invertendo a ordem natural, que seria o ficcionista se espelhar em fatos para criar factóides em sua procura de assustar consciências pesadas, mas, quando a estória discorre sobre fatos de outrem, minimiza as conseqüências pela improbabilidade de acontecer veridicamente.
Na origem dessas aflições da consciência está a lei natural das conseqüências, que faz com que toda excrescência deixada nas sombras, crie luz própria na solaridade do tempo.
Mas, a gravata metafórica se desenha em todas as páginas da historia. Para não exumar fatos apodrecidos na imemória coletiva, abordemos a última página: a sanha do senador Renan Calheiros, aquele que se safou no processo dos mensaleiros, e está melando o acordo do seu partidão com o governo pela presidência do congresso. Estava tudo acertado entre os (canalhas) líderes, que selaram com o Presidente da República as benesses de sua lista de compensações para o próximo ano, quando surge das sombras esta excrescência cobrando seu lugar ao sol, dizendo que o governo lhe deveria favores e que ele, apeado de tais funções, por improbidade, mereceria ser tratado com mais deferência! Atropelando Sarney, que havia avalizado o acordo, anunciou que o partidão vai lançar candidato próprio. Pura manobra de aperto de gravata. No fim, até fevereiro, depois de muita manobra do toma-lá-dá-cá, com a conta muito mais alta, o governo assumirá (leia-se:comprará) o cargo tão ambicionado.
Mas, isso tudo se resolve fácil, fácil: Afrouxa a gravata.

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