quinta-feira, 25 de julho de 2019


Mas valeu a pena

Penei, penamos, dias amargos,
Frios, incandescentes,
No correr de dias pelas estradas
Desabertas de gentes...
Confiamos e cofiamos
Barba e cabelo e decências,
Manipulamos receitas
De como virar gente
E nos perdemos nessa estrada
A procura de mais valores...
Em nossos parcos poderes
Nos sentimos bem, ou mal,
Pendente o momento vivente...
Tudo o que poderia acontecer
Aconteceu ativamente
Mas valeu a pena!
Valeu-te à pena ser diferente
Enquanto gerente de gente?



Os anos setenta

Ou aos setentanos?
Falando da vida minha
Revivida em sete décadas
Consumidas...
Os setentanos talvez sejam
A força da fraqueza
Desses músculos quebrados,
Dessa próstata aumentada,
Desse pâncreas inconservado,
Trazidos à mão solta,
Presos às possibilidades
De freados pelo cansaço...
Mas são sete décadas
De passados!







À luz do abajur

Sob essa luz azul
As paredes harmonizam
Os pensares na cama...
Somos tão parecidos
Com os vagalumes...
Ou mais com lagartixas?
A luz que refletem
Acervam a quietude
Das lagartixas
Espreitando aranhas
Pelos vãos dos fios soltos...
Somos assim mesmo?
Talvez com o rabo aceso
E a atenção voltada
Para a parede branca
À espera das moscas
Assentarem sobre...




Alzheimer

Tudo que sabias
Desprendeu-se
No último suspiro.
É...
Não levarás consigo
Os adquiridos,
Nem os apreendidos
Nos anos vividos!
Se bem comportado
Deixarás saudade,
Se não, esquecimentos.
Assim é a perdulária
Contagem dos momentos,
Finda esta vivência
Perde-se o amealhado,
Até a consciência!





Troca de fechadura

Esses,
Que entram em nossas vidas,
Se licenciam da intimidade
De chegar-se,
Entrando sem bater
Nessa mente acolhedora
Que lhes sorri amavelmente...
Mas em seguida se afastam,
Batem a porta com força
De quebrar sentimentos
E se vão, às outras portas,
Abertas sem cerimônia
ou respeito...
É hora  de trocar fechadura
E por pra fora do peito
O que não mais se atura.





Jurozinho

Todas as assertivas
Deste guru
São diretas, infladas
Pela voz tonitruante.
Dizia coisas amáveis,
Outras cruéis,
Quando vociferava ideias
Deixadas de lado antes.
Se acalmava quando
Se via compreendido
E aceito em suas ordens,
Corria os dedos pelos cabelos
E voltava a sussurrar
Conceitos desconhecidos
Para nós, expectantes...
Pois bem, guruzinho,
Dessa vez errastes
Sem tempo de consertar,
Acabado o deslumbramento
Por macilento. 

Linha na agulha

Viste
Por onde passa
A linha na agulha?
Olhos lacrimados
De persistir na faina
De bordar botões
Na dificuldade
De acertar a burca,
Se é linha preta
Tudo se complica
Mas a linha branca
Facilita o toque...
Assim é a tarde
Que se obscura
Entre o sol pendente
E o lusco fusco
Das seis horas...




Por destino

Um passado tornado breve
É cada vez mais longo,
Enquanto o futuro,
Que fora longo, torna-se
Cada vez mais breve...
Cada um de nós pode finar
A qualquer momento,
Agora que nos sustentamos
Com medicamentos...
A exemplo de meus pais
Eu não sinto medo
Deste momento inefável...
Mas não tenho pressa,
Não me apavora o acontecer
Mais do que a espera...
Sinto-me proprietário
Quando sou inquilino
Deste corpo mal cuidado,
Por destino.



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