quinta-feira, 26 de dezembro de 2019


Enforcados

Tudo que penso saber
Aprendo olhando as pessoas,
Que mentem acreditando no que mentem,
Vi um homem atirando em seu cão,
Desesperado com seus modos rudes
Desabafou no olhar tranquilo do cão,
Que já não aguentava assistir...
Tempos depois deu um tiro em si!
Aprendo observando comportamentos,
Não do mundo, indizível, de tão complexo,
Dos humanos, e suas ações inconsequentes...
Das pessoas equilibradas, sorrisos falsos,
Às desequilibradas e sua sinceridade,
Não enforcam, são enforcadas,
É, este mundo, medido pelos mandantes
Com sua própria régua, onde cada um
Pode dizer o que está vendo, no outro,
Sem saber o que outro vê em si mesmo,
Duplicado... Ah, este mundo...
Tao desesperado.


Estou vergando aos anos
Mas sei as saídas
Pros meus enganos...








Somemos as horas vividas
Que, de partida em partida
Aprendemos a despedida...






Células

O telefone
Toca de novo,
Desliga quando atendo,
De novo...
Pensava que o telefone
Tinha sido inventado
Para falar à distância,
Ledo engano...
Esses celulares
Afastam as pessoas,
Que não se sabiam
Celulares antes...








A força que me resta

Vou usufruir do encanto
De estar vivo neste instante,
Findando o ano,
Aprazível ano para quem
Soube vive-lo...
Vejo a claridade, antes obdurada,
Talvez tenhamos tempo
De ainda somar dias
Às horas desperdiçadas...
Deveria ter vivido mais
A retórica de argumentar os medos,
E vence-los pela iniquidade...
A força que me resta
É caprichosamente levada
A ter-se presente
Para cada parada indigesta
Que a viver-me ainda resta...
sergiodonadio


Anáguas nervosas

O mundo está malcheiroso?
Se tudo estiver
Tao ruim quanto parece,
Dê a descarga.
Está fedendo podre
Com tantos correndo atrás
De nada...
Olhando para todos os lados
Me parece quase promissor,
As flores que murcharam
Estão revivendo,
Os gatos sumiram,
Os patos se foram,
Os dias reverteram-se
Em anáguas nervosas,
É tanta merda escorrendo
Sem sentido...



O cheiro dos eucaliptos

No corte da lenha verde
O cheiro da resina se expande...
São tempos de corte de verbas,
De seca das hortaliças,
Então corta-se os eucaliptos
A cobrir despesas...
Além da grana faltosa
O cheiro dos eucaliptos
Chora...











Tempos natalinos

Quem se importa,
Se os amigos do peito
Foram embora?
As luzes piscam desanimadas...
Os cantos repetem-se
Amargamente saudosos...
Tempos de natalidades,
Eu me importo
Com o vazio das mesas
E as almas chorosas...










As provisões para o inverno

São pratos fundos,
Pensares rasos,
Olhares profundos
Enquanto válidos...
Quem esperamos para o jantar?
Apenas pessoas animosas
Comparecem para a colheita
De uma galinhada sem graça,
À espreita...
Quantos seremos à mesa
Se todos se foram,
Uns por ausência demorada,
Outros por presença
Indesejada as provisões
Serão refeitas...  





Diferenças

Todos os natais
Poderiam ser iguais,
(Não fossem diferentes)
A obviedade disto,
De perceber diferenças,
É que faz os natais
Cada vez menos iguais...
Talvez porque não nos reunimos,
Talvez porque nos cansamos
Daqueles natais iguais...
Não nos presenteamos mais,
Nem secretamente amigos...
Enfim, este natal será bem diferente,
Com três ou quatro pessoas
Em cada mesa,
Olhando o pisca-pisca armado
Tentando enfeitar a janela,
Ainda aberta, deserta,
E a mesa, com a mesma ceia,
E menos gente...

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