sexta-feira, 10 de abril de 2020


Uivos

Estava o Poeta
Cantando à lua nova
Quando a lua se fechou
Em nuvens desencantadas...
Deixando na tristeza o Poeta
Uivando aos seus encantos
Com a lua e seus passados
Itinerantes...













Faz escuro

As fulanas cabisbaixas
Se prendem em casas
De cercas eletrificadas,
Distantes das sujeitas

Que zanzam pela rua
Cuidando suas fomes,
E não resta comunhão
Nas lixeiras carregadas,

Como solução ao logro,
Mas os maiores assaltos
Não atravessam muros...

Acomodam-se em salas,
Roubam vidas de almas
Nesse extremo escuro...

sergiodonadio


Acerbo

Passo pelos hiantes,
Sem olhar de soslaio,
Não devo nada por isso
Que me assombre...
Num instante volto
Ao meu enleio normal:
Mantendo distância
Sigo em frente como
Se não tivesse visto
O que vi de relance,
Tão amargo...










Extravases

No âmago de ser
Que os fatos pactuam,
Quando acontece querer
O que se sonha acordado...
É por dentro que jorra
O mundo por onde
Extravaso...














Das fragilidades

A mão que guia outra mão
Para desenhar alfabetizada
Tira o menino da evasão do
Cárcere em que é guardado

Esses que passam brandindo
Armas e não falam nem serão
Escutados trazem na sacola
E insurdescência nos falados

Os meninos deixados lá fora
Por trocados, se vão à forra,
Massacram sem ter motivo...

O instante preenchido ultrajo,
Mas mesmo sem ter por nexo
Arquiteta neste frágil verso...




Tijolos

Tijolos emparelhados
Erguidos nessa esquina
Com pretensões limpas
De a planta ser um lar...
Pode ser, se aqui forem
Amanhados uma flor
E a criança lado a lado
Florindo essa casa lar
De tijolos e mais tijolos
Amontoados em prumo
Na frieza de erguerem
Mais uma casa num lar,
Pendente o acabamento
Em cores na escureza
De suas paredes vagas...






Quando todos dormem

Há um ruído inquietante
Quando todos dormem,
O silêncio acorda vozes
De antes despercebidas...

Agora irritam os sentidos,
Principalmente do medo,
Já que tudo dormita cedo
Até o cuco cala a parede...

Se desliga desmotivado
Pela conveniente tristeza
Que invade as sombras

Seja por não ter sentido
Por a tempo estar calado
O acomodado ao lado...




Pressões

Construí muro a dividir a rua,
Não promovi bazófia da casa,
Não vejo motivo que inclua
Este medo que nos aguarda,

Temo mais a língua amarga
Que inventa fatos de boatos
Que o miúdo de mão armada
Contorcer a evolução do fato,

Sei-me frágil pela conjuntura
Vista de longe perigosa arma
A defender a atual legislatura

Desde a força dessa estrutura
Fazer de legisladores o carma
A suprimir cada criatura...






Entre meus aprendizados
Gostaria de conhecer-me
Nesta miríade de faces...








Cada boa lembrança
Uma nova esperança...








A mesma porta

Embora
Eu esteja fugindo
Não arredo pé
Do meu instinto,
Talvez um dia
Me encontre
Percorrendo
Maus passos
Levianamente
A transportar
A chave de volta
À mesma porta...












O amor no estágio de utilidade
Quando passa a vigiar saudade
O que resta do restante árduo
Sentimento útil de verdade...








Digo ao meu pensar:
- Dá um tempo,
Que a mente é ligeira
Mas o punho é lento...




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