quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ossadas

A velhice é o tempo em carne e osso.
Assim os velhos sofrem do desgosto,
que o trajeto que os trouxe até aqui
É diverso ao outro,
que os levou a nascer, de novo,
A partir do mesmo ovo,

O que eclode da casca e passeia pelas vielas
E pelos quintais gramados ou lamacentos,
Tanto faz, porque a vida estava começando aí,
Na primeira manhã de passos trôpegos
E inserções
nas margens da cerca de balaustres,

a partir da cerca andamos sem parar
para as idades seguintes...
de velejar ou rastejar, que, do tempo de
balbuciar ao tempo de calar
a dentadura
é um suplício a mais

no churrasco do fim de semana
todos se satisfazem com as carnes do boi,
menos o velho, que, colada a dentadura,
sufoca na maionese
dessa carne sem osso que vem a ser
a velhice breve.









Depois da primeira morte


Depois da primeira morte
As outras se tornam costumeiras
Como tomar água ou
deitar a cabeça e dormir.
Como levantar a enxada e plantar
Ou carpir...

Dormir
É um pouco morrer cada vez.
Da primeira morte apenas a lembrança
De um vazio de branco imerso
No primeiro sono
E a leveza do frio...

Depois da primeira morte
As coisas fazem sentido outra vez,
Emanadas das névoas
Que habitam as obrigações
Presumíveis de acontecer
Depois
Da primeira morte.

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