segunda-feira, 1 de abril de 2013

A linha que nunca termina Paulo Leminski é da minha geração, se não tivesse se apressado estaríamos dialogando a razão. Morto aos 44 anos pelos excessos, viveu quanto pode a curta percentagem de seu direito, depois se despediu como todo ser humano, deixando chorar os defeitos. Foi criticado por ser concretista, e, às vezes, pelos concretistas. Imolado por sua irreverência, veio à tona numa obra, em versos miúdos, de peso. Para a crítica literária e professora de literatura da Universidade de São Paulo Leyla Perrone-Moisés, já está na hora de a academia incluir Leminski em seu currículo. Ela lamenta que o nome do poeta não circule na USP e aponta os motivos: - Ele era ligado à poesia concreta, que tem seus inimigos. Além disso, sua obra ainda não entrou para o cânone porque é um risco formar alunos com coisas que ainda estão acontecendo, por isso o programa é defasado. Ao mesmo tempo, isso evita que ele se torne um objeto morto, sacralizado. No calor dos anos 70 e 80, Leminski entrou em grandes polêmicas na defesa do movimento concretista, apesar de não ser considerado um poeta concreto por Leyla Perrone, Alice Ruiz e Maria Esther, entre muitas outras. Os poetas Ferreira Gullar e Afonso Romano de Sant'Anna, faziam críticas ao movimento, ouviram poucas e boas dele. Hoje, Afonso reavalia a contenda:- “Tivemos alguns arranca-tocos, mas são caneladas que acontecem em qualquer partida. Eu insistia que ele deveria achar sua própria linguagem, pois, enquanto ficasse na periferia do concretismo, seria apenas um afluente”. Ferreira Gullar diz que não conhece a obra de Leminski, mas, apesar das rusgas do passado, elogia. Seu legado é o de ter feito a ponte entre a poesia erudita e a experimental. Ele juntou a coloquialidade da poesia marginal com o lado mais elaborado do concretismo. Seus versos eram cultos, mas ao alcance de todos. Cada vez que tentam bater nele o mito cresce mais. Diz Jorge Mautner: “Ninguém amou tanto a poesia quanto Paulo Leminski”. O hippie erudito trouxe para o Paraná um olhar de lupa, reconhecendo sua faina, puxa outros para o patamar de reconhecer-se valores na periferia de São Paulo e Rio de Janeiro. “A linha que nunca termina” é a constatação desse fato, escritos de admiradores do Leminski estão aí gravados para propor isso. Leminski é da minha geração, mas viveu à frente do nosso tempo, outro paranaense famoso, Dalton Trevisan, quando perguntado se não iria escrever obras longas, disse de seu sonho era escrever haicais, assim é Paulo, diz em mínimas palavras o que poderia gastar o dia dizendo.”A mim me basta a sombra que deixa, o corpo que se afasta.” Que mais é preciso?

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