terça-feira, 3 de junho de 2014



Do livro
“resgate das palavras vazias”

De tardezinha,
Quando as passarinhas voltam,
Conscientes de alimentar pintainhos,
É que aprendo a lição delas:
Ir longe, mas não esquecer o ninho.










As chagas recentes
Escondem as antigas,
Cicatrizadas.
As chagas recentes
São mais doídas...
As chagas recentes
Expõem a fraqueza
Contumaz dos anos...
Chagados.

Por onde começar
A suturar as feridas?
Os pés sangrados
Querem ser curados,
As mãos calejadas,
O pescoço doído, mas
A chaga mais recente
Ainda é a vida
Encontrada perdida.













Pois é...
Às vezes é de ré que se anda
Para contornar obstáculos.










Sobre os direitos humanos


É provável que esteja solto
O matador da mulher
Voltada das compras.
Preso está o viúvo
Em sua dor sem conta...











Eu tive sonhos,
Joguei-os fora,
Sabedor de que
Não era hora

De ter sonhos
Sem remorso,
Agora que os feitos
Ficam no passado

E as irrealidades
Se apresentam
Impunes...

No futuro,
Eu tenho sonhos
Ainda puros.














São árvores que frutificam
Essas que estão florindo,
Como as futuras mamães
Em sua plena infância...








Brasília


Fomos visitar
a cidade nova.
Ela não tem história,
Só promete futuros...
É bom ver plantarem
Tanta esperança...











O namorado
do namorado
Homofobicamente
Não é parente...








Discretamente


Quem sabe
O poluto saiba
Que o impoluto
É que vence...













Demora
O saber esperar.
Mas um dia
Vai chegar...













Mais que o canto
O encanto.
Assim é a ópera
E seu canto...











Tá no tempo
De escrever gritado.
Cansei de escrever
Baixinho cochichando
versos amargos...











A dor segura o ímpeto
De passear pelas vidas...
Aqui há de sedar
A parte esquecida.












Nem tudo que se visita
Pode ser ideograma.
O que não está escrito
No verso é filigrana...
Nem todo amor prometido
Termina em cama.









Passamos da hora de saber,
Estamos na hora não prevista
Do que tem para acontecer
Não é capa de revista...





















Sei... Não sei que sei,
Mas vou levando e sou levado
Ao primórdio do saber.
Talvez saber-me seja lógico,
Sei-me agora mais ignaro
Que antes de ser esse otário,
Porque agora conscientizo
De meu livre arbítrio livre
De quanto valerá meu grito!























Um pouco à esquerda
Encontra-se a felicidade...
As experiências são laváveis.
Um passo apenas,
Apenas o esticar do braço
Ao abraço disponível,
Louvável ser sempre
Um pouco à esquerda,
Ao alcance, se não do abraço,
Do olhar esgarço.



















Pela sonda
Em todo oceano
Passa a vida
Do insano...











O quietar
do corpo
Liberta
a inquietação
Da alma













Esta cidade, sem ruínas,
Como contar sua historia?
De memória?
Uma cidade só ruínas
Reconta sua história
Dentro da outra história


















Escribas


O escrever, às vezes,
É um grito
Por socorro,
Às vezes, não nego,
 É um eco.
Transformo o choro
Em riso,
O riso em espectro.
Ponho vírgulas
Que mudam
O sentido,
De assombramento
Em aviso,
Onde rimos juntos,
 Eu e o acento.
Por fim o papel estrila,
Resolve
Que não mais quer
Ser a quina.
Talvez o oleado aceite
Esta ideia de deleite
E sina.

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