sábado, 11 de junho de 2016



Ante acontecidos


Neste momento
Estou no lá fora,
No frio de lá fora,
Na solidão de estar fora,
E, desculpem, já saí
Dessa estrada sem saída,
Sentado sobre as pernas
E as razões da lida...
Neste momento
Atravesso as névoas,
De as ter vivido,
Esperando o claro do saber
Desacontecido...
Paro, posado na fotografia,
Remetendo ao passado
Meus olhares prontos
A sorrir de novo
Desses desalentos
De viver-me torto
Por saber-me tonto
Ante acontecidos.






A gente descreve


A gente escreve
O que está sofrendo...
Os chinelos esperando,
A roupa ainda quente,
A cama ainda fria,
De repente nada disso importa,
A saudade da rua, aquela,
Em que passamos horas
Boas de vivências...
A rua com seus cães vadios,
Seus gatos, seu lixo...
E os amigos verdadeiros
Sofrendo a dor do tempo vivido,
Tudo parecendo íntimo
Demais para se jogar fora...
Voltando da consulta,
A pergunta costumeira:
-Está dormindo bem?
A resposta costumeira:
-Não, doutor, tenho que
Encostar a cabeça... Mas tudo
Não passa de uma piada,
Da manhã chuvosa
À noite desvairada...



Cidadania


Saio para recolher as cartas,
Em verdade é para recolher a vida
Deixada mofar entre as feridas
Desse passado teimoso
Em lembrar das coisas esquecidas.
Curioso como as pessoas passam
Com seus semblantes leves,
Alguns suando o frio das dívidas,
Outros apenas rindo das causas
Desmedidas...




















Uma pessoa diz
Que meus versos se parecem
Com Cruz e Souza...
Sou mesmo é parecido comigo
Entre meus ídolos
Deixados ficar nas palavras
De um tempo mais romântico,
Mais real, sobranceiro,
Mais talentoso que o agora,
O agora é fria espera
Pelo desfecho das frases soltas
Nas letras descompassas
De um hip-hop que não entendo,
Embora passe...
Com passaram os modernistas
E suas frases soltas
Em equilíbrio com ideias
Fixas.









Pindaíbas


Desculpe aí meu intento,
Mas soletro pindaíbas
Nesse obscuro relento...

As idas e vindas
A um dicionário virtual,
Muito boa essa ideia
De, quando a palavra não existe,
Você poder incorpora-la
Sem culpa...
(No tempo de Guimarães Rosa
Era mais difícil)

Desculpe aí meu intento,
Mas soletro pindaíbas
Nesse obscuro do tempo...







Você não precisa pedir


As pessoas têm pedidos loucos,
No vazio das intenções
Pedem um trocado para o amor,
Mas o amor não se faz,
O que é vendido é o sexo...
Para o gole costumeiro,
Em excesso...
As pessoas pedem auxílio,
Mas não se auxiliam
Porque
Já estão tão fundo no poço,
Que não conseguem erguer os olhos
Para sus próprias mãos,
Pedintes sem causa
Ou efeito.








Senhores pais

Há um senhor
Culpando-se pelos disparates
Das meninas prenhas,
Desculpando-se por não protege-las
Da própria malícia...
Meninas que deveriam estar
Brincando de casinha
Estão prenhas de meninas
Sem casinhas...
E o senhor misericordioso
Procura acoita-las em suas dores
E traze-las para o real
Que ele enxerga,
Mas que nada tem a ver
Com o sonho idealizado nelas.
O problema é que os meninos
Não podem ser pais ainda
Por pura incompetência
De gerir o que geraram
No êxtase da libido.
Há um senhor dizendo
Que não tem sentido...
sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário