sábado, 7 de julho de 2018





Quando fomos iguais?
Faz tanto tempo
Que passou a ser mais...










Tive uma esperança
À minha espera
Que foi desvanecendo
Na vivida dor de chegar...






O inverso do universo


Há tempos meu universo
Estava restrito às distâncias
Que me era passível visualizar...
Depois o mundo me parecia universal,
A terra e seus habitantes, sozinhos
Nessa constelação estrelada...
Depois meu universo todo, inteiro,
Resumiu-se à identidade que me vive.
Passado o tempo o universo
É o inverso do que eu via...
O conjunto de quanto existe,
Indiferente à minha ignorância
De senti-los na vivência
Se resume
À minha presença nessa teia
De incompreensíveis idades
Paralelas, onde cada um é
Seu próprio universo
Nela.







A acentuação,
Às vezes não importa.
A tarde estará sempre
Esperando superar as vírgulas
De um dia todo revivido...








Atado aos valores da vida
Carregas teu pesado fardo
Só dei idas...










Penduro
Minhas meias e ideais
No mesmo varal
Suspenso em varas
Aos sóis dos dias...
Perdendo pares
Sei-me descartado
Como meias e ideias,
Minhas feridas...














Estigmas


A princípio
Não falaria sobre a morte,
Mas ela faz parte
Da vida...
Esta espera angustia
Os dias do enfermo
E estigmatiza
O tempo relevante
Nessa cadeira de balanço
No avarandado,
Sobre as águas correntes
Lá embaixo
A vista assoberbada
Espia o alto monte
E não se vê em partes...
Apenas a morte sacraliza
Este momento
De vida...





Quando partires


Quando partires
Deixa comigo a saudade
Por não ter ido...
Quando partires
Leva contigo
A minha fronte antiga...
A que lacrimeja tua partida.
Quando partires
Deixa comigo
O teu último sorriso,
Leva meu pesar de amigo.
Deixaste teu pijama puído,
Levaste o colchão vivido,
Inda o lençol amassado
Faz tua presença ativa
Entre os broches e saliva
Quando partires
Leva contigo
A sorte de ter-te amado
Entre as mutações do siso.






Se partires
Não olhes para trás,
Pois a memória
Que terás levado
Será da flor florindo,
Não do verão acabado
Em fortuitos...
Se ainda fores
Quando partires
Terei tua identidade
Entre nossos possuídos
De saudades
Nos copos lavados
E nos corpos desvestidos...
Quando partires
Quando partires
Que a paz te acompanhe.
A dor ficará comigo,
Por teres ido.





Em marços


Em março meu aniversário
Propondo novas guias...
Em abril envelheço mais
Decidido reviver os anos...
Em maio sinto calafrios
À espera do inverno frio...
Em junho cubro-me,
Que o tempo me faz frio.
Em julho aqueço-me
Na ilusão de sobrevidas.
Em agosto as folhas caem,
Com elas me ânimo vivo.
Os cachorros ficavam loucos,
Agora passeiam suas donas
Desapercebidamente
Pelas folhas secas...
Passo os meses seguintes
Esperando o próximo março,
Vindo dos longes de mim...






Em dezembro vislumbro
O novo ano, não o meu, de março,
O de todos, na convenção firmada
Entre louvores e cantigas...
Em janeiro
Iludo-me com o novo ano vindo
Na repetição de todos os outros...
Talvez mais cansativo
Para meus sonhos
Exaustos da batalha...
Mas em meio a tudo isso
De cruzar dados e perceber
Que nada muda com meses contados
Esfrio os ânimos de seguir...
Paro, reflito, sigo?
Que voltar seria desperdício.
Sigo carangueijamente, de lado,
Ao mando de meu cansaço
Por ter vivido.




INDECISÕES


Paro.
Como quem quer ir adiante
Paro no último instante.
Medito... Sonho... Respiro...
O dia se repete insistentemente
Na previsão de sempre.
Paro!
Coleciono desfavores
Como quem caminha ao cepo.
Sei-me ainda insatisfeito
Com o dia feito.
Feito obra e refeito acabado conceito.
Paro
Entre as horas do relógio,
Estaciono entre dois atos
Desato o choro que vinha guardando
Desde perdido o ranho
Da última adolescência,
Ind’ontem.







Paro
Na indecisão do próximo horário,
Procuro a precisão dos ponteiros
E
Vejo-me do outro lado,
O lado pioneiro.
Agora sim recomeço,
Meço
Do primeiro eito,
O mesmo que perdera,
Insatisfeito
Paro!











Engaiado


Ouço o tilintar do guiador,
Nesta barafunda
A alma se salva, imune.
Todas as vozes se confundem,
Confunde a mim a minha voz
Soturna...
Ouço a toada que desconheço,
Fé no inusitado recomeça,
Aqui somamos vitórias
E derrotas...
Um tempo ido aos idos
Da memória...
É o tempo vencido em mim,
A voz que chega
Sem ter ido embora?
Enfim,
A voz chegando,
De alguém que foi embora
Ao tilintar do marroeiro
Guiador que engaias
Em tempo eiro...

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