Tempos
fechados
Às
vezes a gente gosta
De
esconder sentimentos...
Há um
relento entre ofertas
E
detrimentos.
Às
vezes a gente expõe
As
vísceras, que, expostas,
Refazem-se
em ventos...
Às
vezes um pássaro
Sai de
nosso peito
E
canta...
Assim
como cantam os pássaros livres,
Não
como o choro dos pássaros presos.
Às
vezes o tempo muda
Dentro
de nós, abruptamente,
E nos
pega sem guarda chuvas...
E está
chovendo.
Puro
sem gelo
A paz
deste momento
Me
acaricia...
Sei-me
novo frente ao ontem,
Amanhecido
hoje
Novo
dia...
O elã
que se forma em torno
Diz-me
coisas que não sabia,
Sei-me
assim desfeito em iras...
Em todo
o dia embebido em poesia,
Puro,
sem gelo, sem fantasia,
É a
espera que sonhava vinha
Desse
momento, embora seco,
Pura
euforia.
Eternos
indigentes
Os
pássaros estão cantando,
Os cães
estão ladrando,
Os
gatos estão observando
Ninhos
deixados à mercê...
Só as
pessoas estão sonhando
Nessa
hora da manhã,
Antevéspera
de domingo...
Quando
haverá eleição,
Que
tanto faz para os cães
E
pássaros e gatos e mendigos...
Apenas
pensantes preocupam-se
Com o
resultado deste domingo.
O dia
amanhecerá o mesmo
Na
segunda feira, como sempre,
Mas
será diferente para pessoas
Que se
puseram a escolher
Seu
próximo tratador.
Aos
pássaros e cães e gatos
Isso
não importa,
O que
importa a eles
É fugir
dessa dor.
Vejo
tudo com bons olhos
Porque
meus olhos
Não se
perdem
A
acompanhar maus olhados...
Quintantes
A
distância dos astros
E sua
visão acima do horizonte
Faz-me
observador das arestas
Desse
sol posto antes...
Doce
vima publicado
Plantamos
palavras
Como o
caboclo
Planta
sementes,
A
colhedura pode seja
Fruta
doce ou jiló amargo,
Mas
será colhida ao gosto
Do
plantado...
Prestemos
atenção ao dito
Cada
vez recitado explícito,
Será o
mesmo fruto de antes
De que
seja escrito?
Plantemos
palavras doces
Mesmo
que a dor as inspire duras,
Façamos
dessa colheita
A paz
semeada em leiras
Feitas
a cabo de enxada
E
caneta... E esperemos...
Que se
frutifique bonança
A cada
regada feita
Nos
fins das tardes
Lavradas
videiras...
Para
impressionar
Mendigos
vestem trapos
Para
impressionar?
Novos
artistas se despenteiam
Para
impressionar.
Pastores
vestem roupas fechadas
Para
impressionar.
Padres
usam colarinhos brancos
Para
impressionar.
Advogados
vestem ternos pretos
Para
impressionar.
Juízes
vestem-se togados
Para
impressionar.
Mendigos
vestem sujos
Porque
é o que dá!
O que
às vezes desanima
É
percorrer a mesma trilha
Pra
encontrar o mesmo fim...
Na
natureza tudo é válido,
Na
mente humana
Tudo
pode ser validado...
A parte
útil da inutilidade
É não
convivido toda arte
E ainda
sentir saudade...
O que
tens de sentir feito dor
Talvez
seja apenas o reflexo
De uma
vez ter sentido esta dor
Oriunda
de um outro amplexo...
O dia
amanhã ainda hoje
Passamos
a ouvir vozes outras
Que nos
chamam a refletir
O que
somos ou que não somos
Na soma
de valores arguidos.
Se a fé
estanca os sentidos,
Se o
canto atrapalha os ouvidos
Acostumados
ao choro...
Por que
então somamos dores?
Deixadas
de doer a algum tempo,
Voltadas
a doer pela lembrança...
Nessa
manhã do dia hoje.
Aqui
voltamos ao dia ontem
Sabendo-o
sendo o amanhã
Já na
atribulação do hoje.
A
cigarra hoje não cricrila
No
silêncio de sua partida
A
cigarra hoje não cricrila
À
mostra de sua dura vida,
Cantada
enquanto dura.
Sendo
assim é que a vida
Floresce
em cada sepultura,
Não sem
uma prece relida,
Mesmo
que despercebida.
Não sei
de sua dor vencida,
Sei da
minha dor na espera
Cricrilando
o último seu dia
Vendo
formigas levarem
Seu
corpo para semeadura,
Seu
jardim em forma lida...
Muito
claramente
A manhã
se estende
Abanando
cada momento
Em
descuido...
A vez
da hora prenhe
Desta
tarde arborizada
Chega
ao claro do sol
Que me
confunde
Entre a
noite dormida
E a
tarde modorrenta...
Sem
pejo o tempo segue
Neste
corpo inda dormente...
Soluções
O
verso, na expressão do riso,
O
verso, na expressão da dor,
Sempre
comigo rebuscando viço
Por
onde o caminhar me for...
A
preguiça bate firme
Em meu
conceito de espera.
Tudo
que penso inda ser
Ou já
me foi, ou já era...
O
provimento
Travei
a vida com tal sustento.
Que me
falta no entendimento?
Sonha-se
senhor o primeiro homem,
Faz-se
senhor o último homem,
Em
detrimento dos arredores
Onde a
vida vive em nós...
As
almas se sabem íntimas
Mesmo
quando brigam os corpos,
Os
braços cheios de abraços
Mentes,
repentes e traços...
Abastamentos...
O que se passa
Na
calma vista pela alma
Que me
pretende isento...
Travei
a batalha do sustento
Dest’alma
que me entende,
Sonhando
dono do homem
Faz-me
senhor de mim mesmo
Entre
lamúrias e gozos
A que
me estendo...
Um dia
vão reconhecer
A força
da tua voz,
Que é um
grito
Neste
silêncio atroz.
Promessas
dos elegidos
O que
acontece
Com as
pessoas esquecidas
Nessa
farsa que se faz
Pelas
não vidas?
Os
corredores são sempre longos
Os
corredores são sempre longos,
Desde
as entradas avarandadas
Às
portas fechadas das intimidades...
Os
corredores são sempre longos
Desde
as primeiras palavras
Aos
discursos inflamados do depois...
Os
corredores são sempre longos
Entre
as tantas salas esvaziadas
E os
quartos a esperar veste-los
De
moçoilas e risadas juvenis
Ao velho
chio das senhoras deixadas...
Os
corredores são sempre longos
Por
onde viajam palavras grosseiras
E
gestos descabidos para as horas
Entre
as madrugadas e os novos dias.
Assim,
por corredores sempre longos
Se
passa a viajar sequências de ideias
E
lembranças de fatos havidos um dia
Na
memória disfarçada em história
Dessas
condições de nadas
Que
viram as meninas peraltas
Em
doentias raparigas de meia idade
Pelos
longos corredores dessas vias...
Acabrunhadas
pela condição de vadias
Ao
preço de uma noite maltratada
E uma
manhã de pães vencidos
Uma
xícara de café de ontem
Uma
guloseima de açúcar e esperança
Ida
pelos vãos das pernas abertas
E mentes
desvividas de sabores outros...
Os
corredores são sempre longos,
Sabe-se
disso depois de atravessa-los
Em idas
e vindas aos banheiros rasos
Pelas
freguesias imundas de ontens
E as
promessas de outros amanhãs...
Os
corredores são sempre longos
Os
corredores são sempre longos
Em
intermináveis portas entrefechadas
Às
possibilidades de surgirem novas
Alegrias
fantasiadas de esperança
Na
saudade de outros dias menos
Fáceis
para a marcha das velhices...
Inalcançadas.
Quando te escrever versos
Quando
te escrever versos
Sobre
as casualidades
Leia
com atenção apurada...
Estarei
a mostrar as cores
Com que
vejo o mundo...
As tuas
faces rosadas,
As tuas
madeixas longas,
As tuas
pernas roliças...
Ao te
escrever versos
Estarei
falando disso
Quando
estiver descrevendo
O luar
dessas noites límpidas...
Ao sol
das tardes antecipadas
Te
escreverei versos livres
De
nossas antigas mágoas...
Apenas
olhando o hoje
Com a
lua se expondo ao dia
Antes
da madrugada...
Os
raios da manhã
Os
raios da manhã
Fazem-te
justiça;
Há aqui
extensa lista
De
sinuosidades...
Da tua
pele lisa
Ao teu
olhar vadoso
Sobre
outro ombro
Menos
operoso.
Os raios
da manhã
Fazem-te
justiça?
Ou bem
lustrado banho
Desde a
madrugada
Põe-te
em aceso?
Vês,
que belo perfil
Singela
aos raios
Da
manhã que chega?
Talvez
por isso demorem
A
mostrar-te claros
Os
raios de amanhã
Neste
ainda dia cedo...
Há
sempre uma limpeza
A fazer
nos lixos do dia...
Uma
barata morta
No
canto escuro da sala
Umas
cascas de manga
No
fundo da lixeira,
Uns
homens desocupados,
Tudo a
jogar fora
Nos
lixos desse dia...
Quanto
lixo a recolher-se
Forçosamente
deixados
Nessa
nau sem rumo...
Quanto
lixo para amanhã,
Ainda
serão sabidos
Só
depois do hoje
Convivido...
Ah...
Pudesses reviver a esperança...
Trago
no peito a incólume veia
Desde o
eu criança, aquele tempo
Em que
o tempo dava jeito
Às
desesperanças da esperança
Inocente
de futuros coloridos, e,
No
futuro ter a grata sensação
De ter
sido puro, despojado
De
amargas lembranças por não vivido
Ah...
Pudesses reviver a esperança
De
sorver a vida como ela te veio
Sem os
apartes das negociações
À luz
de velas ainda acesas
Nas
rezas das doces tias benfazejas...
Ah...
Pudesses reviver a esperança
De
compensar as dores dos cansaços
A cada
estrago feito à leviandade
Dessa
teia...
Quando
te desnudas vê-se os ossos
Salientando-se
pelas saboneteiras
De teu
colo estreito...
Sabe o
que se conforma com isto?
Teu
sorriso entre expressões vazias
De um
outro limite de alforria...
Livre,
porta-te ereta entre pilares
Frágeis
de tuas mãos ligeiras
E
escondes o que te fazem louvores
À
beleza que terias tido antes
Em
nossa infância líquida de erros.
Por que o ser humano
É tão
fera?
Esse mau cheiro
Pode seja a poeira
Que o vento esparrama
Aleatoriamente...
Como pode seja
A passagem de humanos
Pela rua encardida
De gestos...
Ou ainda dos bichos
Presos nas grades zoológicas
E dos quintais
Nenhum comentário:
Postar um comentário