segunda-feira, 15 de outubro de 2018


Maliciosamente

Os olhos entregam
A malícia de adivinhar
O que se esconde
Atrás das vestimentas...
Distraidamente
Os olhos se entregam
A perscrutar as evidências
Que desconvencias
Com seus gestos sutis...
É, maliciosamente
Os olhos percorrem
O proibido às mãos
Salientes...








Indigências

O reflexo
Desta lua cheia
Sobre o lago
Faz a água
Querer-se lua...








Vivo carreando os nadas
do que é feito tudo...
Grito ao teu passo mal dado
Ou fico mudo?




Idílios

Viajamos os espaços
Tempo de nossas vidas...
Únicas nos tropeços nas pedras
Soltas pelos descaminhos.
Nos fizemos fortes,
De mãos dadas nos torvelinhos
Enfrentados pelos caminhos
Consequentes de nossos atos.
Desatados nós idílicos idílios,
Feito caracóis dos ventos
Remoinhados vínicos...
Somamos nossos feitos
Aos deles, demos nosso jeito
Aos rejeitos advindos
Das intentadas forças...
Cruzamos juntos
Os cabos tormentosos
Tornando-os de esperança,
Trança por trança...
Em ti começaria de novo
Ao tempo de criança.
Mechadas

Eu queria esta senhora
De cansadas mãos postas
A receber a dádiva esperada,
Não apenas a promessa a cumprir-se
Mas a que nem foi dada a exigir-se!
Eu queria desta senhora
As mãos espalmadas
Na alegria de rever seus dias idos
E novamente sorrir à dor levada
E chorar a alegria de servi-los...
Eu queria que esta senhora
Tivesse mãos para suprir as faltas
Desses meninos que se foram cedo
Às armadilhas armadas
Desse tempo lírico de mechadas...
Eu queria chorar por esta senhora
Que sozinha costura suas dores
E rui-se do que foi uma vida
Entre tantos açoites.


Fases

Aqui, sentado
Nesta cadeira,
No meio da noite
Esperada estar pronto,
Me trafego ao meu íntimo,
Passageiro de tantos sonhos,
Desistidor de tantas batalhas,
Despertado para a realidade
De que o tempo me apressa,
Me abraça, me aperta contra...
Dias e dias sentado
Nesta cadeira, nas noites idas
Entre sonhos e desistências
E o sentimento de partidas...







Coalescentes

Coalescido
Te procuro agora,
Visto que passamos
Do riso à glória
De ter sobrevivido
Sem ter ido embora...
Seremos coagidos
A percorrer o mesmo trecho
Vencido antes?
Hoje, dado por vencido,
Perscrutando sentimentos
E sentidos
Na vã promessa de ir
Sem ter vivido
Àquela nostalgia...
Tempos que se foram,
Outros veem chegando
Entre floradas e invernos
Duros de nos dizer perenes
Peremptoriamente
A que temos obedecido.
Entrementes

Não é que eu
Não queira discutir
Tristezas...
É que já suporto
As minhas
Dolorosamente.
Passemos então
Às boas recordações,
Aos bons fluidos,
À singeleza do cantar
De minha neta,
Por exemplo,
Sempre presente...
As teorias de meu neto,
Hoje ausente...
As peripécias do dia,
Entrementes... 






Nós estamos
A colher o que plantamos...
Esta florada dispendiosa,
Cara aos nossos valores
Desprezados, apreendidos
No pós-guerra e aperfeiçoados
Nas miragens de novos tempos...
Que não vieram.

São guerreiros em tempos de paz!
Somos cobaias
Aos novos experimentos
Que plantamos
Esperando serem melhores
Que nós... E desabamos.






Como tu

Como tu,
Por onde andei
Deixei pegadas, umas furtivas,
Outras atrevidamente frágeis...
Mas sempre escancaradas
Ao passo que tive, andado,
Como quem surrupiou
O outro lado.
Como tu,
Por onde não andei
Também deixei pegadas
De minhas vontades
De ir, não indo...
Paralisado pelos medos
Das madrugadas...
Como tu.





Ousadias

Ouso pensar
Que acordo em pranto
Que me parece acalanto...
Ouso querer
Que tudo pareça novo
De novo,
Mesmo em não o sendo
Entre as dores de hoje
E a audácia de ontem...
Ouso correr
Atrás dessas ficanças
Daqueles trechos íngremes
De não voltar...
Ouso...
Que ousar me cabe
Em sonhos que arruais
A esta distância.




Veteranos

Estamos costurando as horas
Nessa colcha de retalhos,
Peça por peça com seus bordados...
Parece que nos detivemos
Em algum lugar no tempo...
Onde um idoso encontra a morte?
Num passeio a beira do rio?
Numa cama acolchoada?
Numa rua em dia de frio?
Um idoso está a esperar o momento...
Disciplinadamente.
O jovem não tem este discernimento,
Procura a morte entre colisões
E assaltos à razão...
Pena vê-los com suas próteses
Ganhadas na própria demolição
A cada esquina, fumando sua vida
Em decomposição.





Você pode quebrar
Os retratos na tua parede,
A memória dos momentos
Contidos neles, não...








Por que dói tanto
O verso demovido?
Porque os versos
Esfaqueiam motivos.







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