terça-feira, 9 de abril de 2019


Mesmo chão

Quase nada a se dizer
Do passado e do futuro...
O presente é este vazio
A consumir a notícia
Que te faça reviver-se,
Ri-se da velha anedota,
Chora com a notícia
De África inundada...
Estranho como África
Pareça-te uma só,
Com dezenas de povos,
Situações diversas...
Já não é notícia
O sofrer africano...
Se fosse europeu
Ou americano...
Seria catastrófico aos olhos
Dos habitantes deste
Mesmo chão...



Somos tão efêmeros
Que da pena pensarmo-nos
Futuros...
Consignamos nossos desejos,
Sonhos desvalidos,
Contornamos nossos erros
E tocamos em frente...
Até aonde?
Nossa efemeridade
Compõe-se de travas,
Barragens impostas
Por uma saúde doentia.
Mas nossa mente,
Também desgastada,
Teima em eternizar-se
Lívida... Tardia...






Que mania é esta
De querer-se nobre
Entre atos pobres?






O fosso que separa
O castelo da favela
Não é feito só pedras
Mas empedra...







A mala testa

Somos tão desiguais
Com mãos e pés alados...
Mais ancorados que veleiros
No medo da tempestade...
Que tristeza esta
Querer-se mais em festa
Se o tempo é a espera?
Que espera é esta
Se o tempo emperra
Em frestas?
Tão desiguais e enfim
Igualmente lesos
Na mala testa...







Aos insones

Sonolento...
Sonolento...
Sono lento.






Tivemos bons momentos,
Não que tenha  sido muito,
Mas hoje as sobras
Movimentam lento...









Longe de meus pés
Caminho o mundo
Que se torna pequeno
Pelo intenso uso...







A vida recomeça quando termina,
Sabemos nós Poetas...
O que não sabem os cientistas?








O tempo se encarrega
Das inutilidades...
Sabe o pequeno cinzeiro
Das ideias esfumadas,
Um tanto trôpegas
Enquanto palavras...
Silencio-as sempre
Para ouvi-las mais
Com a inconsciência...
Cubro-as da decência
De serem lapidadas
Nesta lápide larga
Das cercanias vagas...
Penso-as sinceras,
Embora maliciosamente
Algumas me afligem...
Um dia perco a vergonha
E dou-lhes voz neste silêncio
Acabrunhado em mim...



Todo sentimento
Contem-se
No porta retratos...







A miserabilidade da mente humana
Despe-se quando noticia o brexit
Acima da mortandade em Moçambique
Em relevância noticiosa...




a miserabilidade do ser humano despe-se quando noticia o brexit acima da mortandade em Moçambique como relevante!



VESTÍGIOS DO TEMPO

Sobre os vestígios do tempo
O dia novo...
A paz de ter fendido dias amargos
E usufruído dias doces
À força de cada idade vivida
Uma nova experiência de vida...
Um novo alento hoje,
Ver as crias se recriando,
Amanhecendo esperanças
Nas vozes dessas crianças...
Vindo desse tempo vida
Florescida em cada gesto,
Superpondo-se em cada passo
Que se promete melhor
Que o experimentado ontem...






Sofrenado

A cada passo
O medo amarra-se aos pés
Pesando a passada em viés,
Abastando sonho e realizado.
Foi-se a demora ao finamento,
Foi-se a guerra pela paz,
Vai-se a cada estranhamento
O infesto de nova palavra
Como resposta mal dada,
Imposta pelo erro acertado
Esfumou-se ao meu lado
Sofrenando esse cansaço.
E o tempo passou... Passou...
Despercebido ter passado,
Que se o impôs,
Por esperado...






Aos meus medos
Me aconchego,
É o que fica de mim
Na manhã cedo...






O retrato lembra
Um riso forçado,
Sem o dente careado...





momento desperto

Apenas o momento
Lembrado entre sorrisos
Vale a pena ser revivido...
O que não fora certo
Nesse momento desperto
Sabe das horas inúteis
De se estar por perto...
Ausente por engano
A cobrir com panos
O rancor, por certo...








Pelos olhos magros

Pelos olhos magros
Espreita o mundo...
Lá fora o dia esforce lágrimas,
Umas de alegria, as de mágoas...
Que fim levou aquele riso solto
De uma era de felicidade fácil?
Talvez as dores tenham seu lugar
Entre os motivos desfaçados...
O dia hoje foi alegre e feliz!
O dia hoje cede lugar ao novo dia,
Vindo de um novo mês contado
Pela passagem das luas novas...
As flores voltam a florir em maio
Aos seus olhos magros...
Apenas vendo passar um tema
Sobre olhares perdulários...
Que deixam de viver essa florada
E ficam a esperar outra vez
Os sinos da madrugada...

sergiodonadio

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