quinta-feira, 18 de abril de 2019


Mochila

Para guardar dentro do dia
Essa tamanha paz alegria
Será preciso abrir caminho
Entre zíperes e apetrechos

Deixados tolher às fraudas
Desse desleixo... Fantasias...
Tirar as coisas dos ontens,
Que nos ontens te serviam,

Guardar apenas regalias...
Necessidades sentidas
Para a próxima viagem

A partir dessa veleidade
De saber-se fauno e frida...
Guardar pra dentro do dia.



Quando as rochas se partem

Quando as rochas se partem
E grandes árvores caem
A brevidade das vidas
Se transforma...
Quando corpos se afogam
Nas águas descomunais,
Quando as pedras se movem
E as lápides se dissolvem,
As almas não voltam atrás,
Se transformam...
Quando o temporal embravece,
Força bueiros e paredes,
Pode seja a hora da força
Da reza à natureza...
Quando as rochas se partem
Cuidem-se pequeninos
Dessa corrente capaz... 

Lacrações

Quando esqueceres a saudade
Daquelas roupas pro domingo,
Das aulas apreendidas nas ruas,
Das tardes desanuviadas,
Das frutas proibidas, roubadas...
E mais, quando tiveres esquecido
O domingo feriado em quarta,
O domínio da palavra sobre a palavra
Estendida às roupas lavadas,
Penduradas, palavras e roupas,
Nos mesmos varais do quintal,
E não sentires saudade
Dos almoços repartidos
Com massas e pães dormidos
E a sensação de vencidas
As guerras perpetradas,
Que não chegavam a turbilhoar
As tardes desavisadas...


De o nada ter a dizer
Do tudo que foi-nos dito
No desaprender das malícias,
E não mais ouvir a chamada
Dos olhares fortuitos
De as adolescências levadas
Por jogos de amarelinha
E da forma de querer o tempo
Parado nessa escala...
Daí seremos vencidos,
Você esqueceu-se de nós
Numa era de pieguices
De nossas meninices válidas...
Então será preciso acordar
Essa memória esquecida
Das coisas reais de tua vida...
E voltar ao que vivera antes
De lacrar tantas intrigas...
O grande pássaro

Pousado no galho seco
Dá-me lição de paciência
Ao por deste sol lento...
Talvez sejamos companheiros
Dessa mesma espera
De que amanheça
Daqui a pouco
E nos force voar de novo...
Mas, na manhã de eu acordar,
Ele terá avoado
Enquanto viro de lado, incapaz
De acompanha-lo na aventura
De caçar o dia...
Eu espero, ele se ativa,
Superior à minha vontade
De também voar,
Um dia...
                 sergiodonadio


Na tarde esquecida
A paz recomeçada
Seja vida...







No canto do pássaro preso
O que te encanta
Pode seja seu desespero...







A palavra que não foi dita
Espreme lágrimas...








O que te diz este dia
Que não ouviste ontem?
O sentimento sutil
Desse encontro...






Será preciso mais doer
O pós-operatório
Para fazer-me sentir
A duodécima hora?!






O que te diz
Este olhar dolorido
Do tempo sentido?







A espera da ausência,
Maior que a ausência
Pela espera...







Dentro deste silêncio
Talvez o mais dolorido:
Incólume ao ouvido...





Nenhum comentário:

Postar um comentário