sexta-feira, 23 de agosto de 2019





Elementos


poemas


















Elementos

Sabe-se lá
Que mundo é este
Onde o vento rola pedras,
Bate palmas no telhado
E de lá espanta o gato...
Talvez não seja inerente
Ao último assalto,
Mas me assalta!
Sabe-se lá
Que vento é este
Que rola o mundo,
Tão fecundo...










Desencantos


Todo encanto se desfaz
Olhando de perto as faces
Rebocadas de batons,
Olhando de perto as águas
Conturbadas de lixeiras...
Olhando de perto ideias
Repensadas de besteiras...
Vendo por dentro a paz
Deformada pela guerra
É esse tanto faz
Que enerva...











Rumos


Eu gostaria de saber
Onde estão os bêbados
De ontem...
Estão dormindo nas sarjetas
Ou voltaram para suas casas,
Incólumes?
Eu gostaria de saber
Para onde vão os perdedores
Depois de uma aposta
Mal feita...
Para suas famílias, desfeitas?
Eu gostaria de saber
Mas os que sabem
Não me dizem,
Envergonhados de terem perdido
Seus rumos impedidos...






Pequenas pontas


As pequenas pontas
Das penas anunciadas
Nesses poemas cortados
De reticências
Dizem do desespero
Dos Poetas marginais
Dessa incoerência
De dizer coisas esperadas
Corretas
Mas sinceramente banais...
As pequenas pontas
Amarram a primeira palavra
À palavra final
E ferem a consciência
De ser
Normal,
Anormal?
Fora dos padrões
Dessa normalidade fabricada
Nos rodapés dos jornais...


Quem diria

Que o tempo faria rugas
Na consciência?
Que o trabalho faria calos
Na insciência?
Que o passar da raiva
Faria negrumes
Nas faces rosadas de antes?
Quem diria
Que a viagem seria pouca
Para a felicidade vingar
E por sorrisos nos olhos
De quem volta?
Mais do que lágrimas
Do que não volta
Mais...








Apenasmente

Uma palavra
Que não existe
Mas define o pouco
Que se pode fazer
Em uma tarde de apenas
Sofrer...
Porque nada explicaria melhor
Esse poder do sentimento
De transparecer no semblante
O erro cometido antes...
Apenasmente essa palavra
Define tal sentimento
Perdido nas aluições
Do esquecimento
Dos outros ao redor
Do poder de ferir
Calando.






Às margens

À margem do sentimento
Mora um senhor sisudo
Pela experiência de vida
Que traz no cenho furioso...
De raivas vai-se acabando,
Finando seus fracos nervos
E músculos frouxos...
À margem da loucura
Mora o viandante que parte
Do subúrbio para outro,
Sacolejando num banco seco
A procura do pão de hoje
Na grande cidade fera...
À margem da cultura
Vive o menino sujinho
Sem o socorro esperado
Nessa cratera...

sergiodonadio




Num dia assim

Nesse dia
Cheio de negatividades
Anunciadas
Parto para o além rotineiro
Sonhando os sonhos passados
De tantos outros janeiros...
Num dia assim
Perduramos a desesperança
De viver mais um tempo
Sem dores...
Mais um tento de amores
Deixados fenecer
Na relva...










Horas contadas

Quantas horas contaste
Desde ontem famígero?
As fomes se somaram
Às dores de ter se perdido
Entre fronhas e travesseiros
Numa alegoria de insônias
Postas a render fissuras...
Quantas horas minitiradas
Tiveste a pachorra de contar
Entre carneirinhos
E contas a pagar?
O dia amanhece, a manhã
Promete o pão de ontem,
Amanhecido, como sua espera
Sem sentido...








O chão resvaladiço

O que te espera
Nesse chão resvaladiço
É o amanhã novo,
Sem os espinhos de hoje,
Calçado de alpargatas
Não se resvalará ao piso...
Segue, então,
Na mesma esperança gasta,
Que te será amiga
Se isso a ti basta...
É tão pouca a espera
Por esse dia inteiro
De futuros...










Desejos

A moedinha
Na fonte dos desejos
Pode não atender
A quem a joga
Mas certamente atende
A quem a recolhe,
De um ou outro jeito
O desejo
Será satisfeito...


















Nenhum comentário:

Postar um comentário