terça-feira, 13 de agosto de 2019








   Janelas


    



                                                      Poemas












O que as pessoas não sabem
É que o ser Poeta
Pode sentir o aroma das pedras...















6 de agosto de 2019

Vou datar,
De agora em diante,
Minhas palavras de gaveta
Para saber quando e porque
As disse de mente e olhos abertos
Sobre situações de perigo...
Vou escrevinha-las em páginas
Limpas
E guarda-las nessa memória viva
Cerrada às investidas das traças...
Assim, se queimar um HD,
Não as perca na pobreza deste meio,
CPU, entre coisas que não entendo,
Está essa situação de medo
Frente à máquina mesquinha
Que desdenha de minha chateação
Por perdidos violáveis ritos...
Agora vou engaveta-los nessa nuvem
De meus guardados poeirentos,
Úteis ou inúteis palavras ao vento
Ido dos tempos, imaturos?
Inerentes.
Janelas

Atenção
Para as janelas abertas,
Podem ser venezianas,
Grades, vitrôs...
Ou cadernos abertos
Em páginas descritas
Breves...
Faz-se preciso abri-las
Para sorver a fresca
Do ar lá de fora
E amainar sentimentos
De culpa por fecha-las
Ao tempo ontem...









Fraquezas

Talvez o tempo esmoreça
Ao perceber que não me pode...
Dois teimosos a duelar,
Uma quebra de braços?
De pernas talvez...
Mas nos olhamos desconfiados
Faz tempo...
Nos miramos como atiradores,
Nos flertamos como enamorados...
Talvez eu esmoreça ao tempo,
Cansado, extenuado,
Ou apenas desistido de lutar
Com braços frouxos de forçados...
Talvez o tempo não ceda,
Ou sou eu o fraco?







Truques

Eu tenho truques escondidos
Para vencer indecisões...
Como o que somar aos erros,
O que plantar na sombra
Das árvores pioneiras...
Eu tenho truques, sabe,
Para sobreviver às guerras
Que perdi em tempos idos...
Mas agora vencedor
Desses vencidos
Escondo truques
Deixados sorver minha calma
De vivido...









Andar em círculos

Descubro,
A duras penas,
Que andar em círculo
Nos leva ao mesmo lugar,
 O lugar nenhum...
Mas nos ensina ver
As pequenas saliências
Desse lugar,
Como flores diminutas,
Crianças escolares,
Flores esquecidas,
Crianças pedintes,
E a fome delas duas
Em círculo...








Adolescências

Talvez os meninos
Estejam depenando
Mais cedo,
Como os pardaizinhos
Estão empenando
Mais cedo...
















Meu jardim de letras

Semeio aqui e ali
Minhas letras cifradas,
Como alguém semeia
Salsinhas e cebolinhas
E espera colhe-los adiante...
Assim somos, semeadores,
Alguns, de boas ervas,
Outros, de ervas daninhas,
Assim como os letrados fazem
Com suas raivas e parições...
Então, procuro me distanciar
Dos males engendrados
E me ater aos bons pensares
Adiante com meu cajado
Fazendo deste chão pedregoso
o guardo da terra seca de propósitos,
Talvez inda colha algum fruto doce
Nesse meu jardim de letras
Regado a suores noturnos
Na empírica esperança, factual,
Da absorção do gozo.
Sergiodonadio
O clima de amanhã

Qual a importância
De se saber o clima de amanhã,
Se hoje a guerra
Exporta cadáveres?!
Os tiros ressoam bem perto
Agora,
Será Napoleão, ainda,
Expulsando D. João para além mar?
Ou Hitler se safando no dia D?
Será uma guerra nova
Essa em pleno século novo?!
Pense nos romanos
E suas conquistas, nos etruscos...
Pode crescer essa raça
Assim tão belicosa, desde Cain...
Até hoje?!






Olhar espelhado

Olha no espelho
À procura de si no outro,
Refletido comparsa de seus atos...
O espelho é um mentiroso,
Pensa,
Reflete a pessoa que não sou,
Fria,
Absolutamente fria!
Torna o olhar, surpreso,
Se descomposta ao ver-se assim,
Meio cansado, meio fodido
Pela pele solta
Sobre o cílio...









Oras!

Deixei o cavalo pastando,
Indo à feira,
Um desatilado
Propõe-se compra-lo.
Tenho isso como insulto!
O cavalo é meu parceiro,
E,
Em toda parceria
Não se põe preço,
Oras!














Basta que se tenha vivido
Um pouco
Para não estar completamente
Morto...








A pior notícia do dia
É acabar
Sem nenhuma alegria...









Essas latinhas vazias,
Recicladas,
Não lhe parecem prova
Da reencarnação?








Existem inúmeros cursos
De relações públicas.
Não deveria haver um
De relações íntimas?






Do outro lado

Do outro lado
As causas são minimizadas,
Fatos estarrecedores
Tornam-se normais...
Ações descabidas
Passam a caber na ideia
Sem fim dessa eternidade...
Enfim,
O canto sonoro dessa paz
Faz-se esquecida dos antes,
Preocupado com o depois
De suada lida...










Esperador

Num mais de um ano
Passados em desesperança
A esperança mereja
Gotas de utopia...
Pode seja o dia dessa enfim
Trazido ao ano presente,
Ao desalentado esperador
De futuros, mesmo em suas
Derrotas costumeiras, mas
De otimismo feito presente,
E se compraz em ver sorrir
Um choroso sofredor
De sempre... 










Pacientemente

Um tempo
Pacientemente guardado
Entre quatro pensares
Invoca a autoridade
Que realmente tem sobre
Nossos risos e nossas dores,
E usufrui dessa liberalidade
Saber os quantos e os porquês
De nossas relações,
Ora contaminosas, ora sadias,
Traz dos longes passados
Essa nostalgia...
É de se querer bem,
Mesmo nas maldades,
Quando quebra pernas de aranhas,
Cega pardais para satisfazer-se
Por não poder fazer o mesmo
Em nós, humanos,
Derrotados por suas vontades,
Defensores de nossas asas e olhares
Penando ao não ver a verdade
De não podermos voar...
Incondicionalmente

Todos os corpos fodem,
À flor da terra fedem...
Os que comem grama, menos,
Os que comem gordura, mais,
Muito mais...
Por isso lacrados em caixões,
Soterrados a sete palmos,
Cobertos de flores para disfarçar
O odor da pele se desgrudando
Das carnes que recobriam ossos,
Última porção de restos
Comprobatórios do que nos foi
Vivido...











A poesia é um método
Para controverter
As leis impuras do poder...









A realidade não interessa
Se a irrealidade é uma festa...








O dia dos tolos

Por que não?
Se temos o dia dos sábios,
Esses que se enamoram
Por paixão desenfreada
Por pessoas ricas...
Podemos ter o dia dos tolos,
Esses que se enamoram
Por pessoas feias, pois,
Para quem está amando
O feio não existe, nem resiste
À pertinência da cegueira
Amolante que se frisa
Em amorosa brisa...









Veladamente

Esta noite encontrei
Um velho amigo velho,
Construtor de túmulos,
Agora aposentado, amante
Dos mármores desenhados
Nessas campas sem passado.
Na reunião de família e amigos
Animou a conversa
Com um assunto funerário,
Dissertando sobre seu tempo
De cemitério e as peculiaridades
De seus clientes,
Principalmente dos orientais,
Com seu costume de trazer
Comida para agradar os mortos,
Como ocidentais trazem flores
E religiosos trazem velas acesas...
O velho amigo velho discorreu
Sobre apetitosos pratos
Que lhe eram oferecidos
Após as cerimonias... Detalhe,
Numa festa de aniversário!  
Animais noturnos

Animais noturnos
Somos todos...
A partir de certa idade,
Ou por perturbação da tarde.
Às altas horas ouço a coruja
Reclamando no esporão
Sua sempre atenta indignação!
O pica-pau aquietou-se
No teto externo do chalé...
Os tucanos se aninharam,
A águia pousa no alto galho seco
A espreita dos filhotes
No pombal dos ninhos,
Mães aflitas essas
Que se aninham sobre eles
Numa proteção quase impossível,
A águia tem fome ainda,
E entre animais noturnos
O cão açoita o gato,
O rato foge e eu não durmo...


Teia

Flertando com a aranha
Enteando um inseto menor,
Que desconhece o que seja,
Apenas vítima indefesa...







Relacionamentos

Nada tão fácil, hoje em dia,
Do que assassinar uma mulher,
Os vizinhos entendem que
É assim mesmo o relacionamento...







Vivem a temer o futuro
Mas é o passado
Que atropela os planos...









Quando você se propõe
A dar caminho a um moço,
Pode estar lhe mostrando
Seu próprio caminhar frouxo...








Como livrar-nos
Desses filmes novos
Em que o artista
Principal é um carro?








Impressiona que o macaco
Tenha sido nosso passado?
Assusta o pressentimento
Que seja nosso futuro!








O que estraga a viagem aérea
É a rapidez de chegar,
Tirando o tempo de apreciar
A paisagem bucólica de vida...








O mundo está cheio de loucos,
O perigo é quando um deles
Alcança o poder presidencial...
 CDA






A imortalidade

É uma realidade imprescindível:
O corpo se desvai com o tempo,
Aos poucos perde a vida de antes,
Aos poucos cede às dores
Seu desobjetivo forçado
E se vai...
A alma não é um sonho,
É a realidade de viver-se o agora!
Se você está com fome agora,
Se está com vontade de alguém, agora...
Aquela senhora inacessível...
A alma é abstrata, o  corpo é substrato,
Que sofre as dores da carne,
Com a amputação dos membros,
A alma pode até sentir pena de ti,
Que manca enquanto ela se altiva.






Realidade bruta

Quando cheguei
Àquele fim de mundo,
Lá encontrei um ex-gerente
Desdentado a murros, e,
Disseram que eu seria o próximo.
- Quem fez isso?
Perguntei aos rapazes.
- O Valdemar, bebe e se diverte
Esmurrando pessoas...
Como eu tinha investido tudo
Naquele empreendimento
Tomei coragem e fui cobrar dele,
Que se me desse um soco
Levaria um tiro.
Para mim foi assustador o momento,
Para ele foi normal, disse que
Não era verdade, que não era aquilo...
Convivemos por dois longos anos
Em paz.



Turras

Se existem anjos,
Que cuidem das crianças
E dos idosos,
Uns por não conhecerem o perigo,
Outros porque esqueceram...
Perigo de se viver em meio
A adolescentes e imaturos maduros,
Seres obscuros em sua veleidade
De serem turros...













Antes que tarde

Estamos ficando velhos,
Companheiros,
Melhor fazer as pazes
Com alguns desafetos
Costumeiros...
Se vozes me xingam, relevo,
Se às vezes te ofendo, releve,
Relevemos atos impensados
Esvaziemos nossas mágoas
Em espelhos...
Somos tão diferentemente iguais
Que não acordamos
Com opiniões alheias,
Mesmo iguais...








Sorriso triste

Em meio à guerra dos adultos
A menina sorri tristemente
Por não saber como interferir
Nessa loucura convivente...
Com a ferocidade manifesta
A foto retrata a agonia
De velhos combatentes
D’outras guerras infindas...
O pano de fundo incendeia-se
Ao torpor de velhos cansados
E senhoras em desespero
À paz que não se aprende...
São séculos de covardias
De povos trucidando povos,
De gente exterminando gente,
Mas a menina sorri a pedido
Do fotógrafo acostumado
À ferocidade dissimulada
Numa roupagem recente...



Desumanizado

Sem pretensão de ser,
Mais do que me foi designado ser,
Tento lutar minha luta
Para manter este esqueleto coberto,
Então, certo ou incerto, viajo...
Em cada suspiro sinto o prazer,
Imerecido ou não, de ter vencido
Sem perder o conseguido
Neste suor que me move,
Assim como me comove
Ver nos arredores gente
Querendo-se gente
Abanando sorrisos aos aplausos...
Cenas que me dizem um pouco
Nesta fase de desconsertos
Em que vale mais um cão lavado
Que um menino imundo.
Quero não ser este ser
Desumanizado...



Do avesso

Já fomos guerreiros,
Agora somos guerreados...
Culpados pelo abandono,
Pelo clima, pelos crimes,
Por termos tal passado...
Já fomos guerreiros,
Agora somos acovardados,
Talvez pelas dores do corpo,
Talvez pelo peso na consciência
Ou pela alma distorcida ao fato.
Mas somos a vida que dermos
À geração mais nova,
Sem culpa por nosso passado,
Por sem passado!
Portadores de sonhos
Que nos fizeram ultrapassados
Nesses passos dados...





Tentando se esconder da vida

Há uma tristeza febril
Nos olhos das prostitutas
E dos tocadores noturnos...
Nesses bares que a TV não filma,
Núcleos de ébrios profissionais,
Há este olhar mortiço de sono
Vencido nos frequentadores usuais...
Meu amigo recrimina meu silêncio,
Talvez fora do meu ambiente,
Mas ainda é cedo para curtir brigas,
Que são inevitáveis ao descontrole...
A velha tevê na parede mostra
Jogos reprisados, eles vibram de novo,
A cada jogada repetida, eu silencio...
Há um incompreensível fervor
Nos olhares perdidos da realidade,
Assumidos perdedores jogam sinuca
Sem se incomodarem com os horários
De suas casas, mesas postas esfriadas,
Familiares desesperançados de atenção,
Seus desfeitos se escondem da vida
Vencidos pela desrazão...
Processo de desaprendizagem

O processo de aprendizagem
É cansativo...
Levamos anos
Para aprender a andar...
A correr e a falar,
A comer de saciar à vontade...
Tão pouco,
Levamos outros anos
Para desaprender tudo isso,
E, por respeito fazer de conta
Que não esquecemos
O aprendido...










O sol alumiado

Já alumia a janela,
Pondo-se lindamente sob nuvens...
Sei que é um horizonte perdido
Entre as dores do mundo...
Mas é o momento em que
O pensamento se volta
Ao lúdico...
Posso formar abstratos sobre tudo,
O sol alumia o relógio na parede,
É sua última claridade,
Antes de escurecer-se em noite.
Sinto que é assim conosco,
Mas é mais demorado nosso ser posto,
A um céu que se expõe
Sofremos menos o torpor
Desse momento quando
Nos distanciamos das verdades
E sonhamos que não é tão tarde,
Embora o escuro nos esfumasse...

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