domingo, 19 de junho de 2022

 

A peia

 

A poesia, no poema,

É feita de repentes...

Uma folha que voa

E aterrissa, não cai,

Como a brisa que

Não chove, se esvai...

Como a nuvem que

Se move devagar...

O poema se faz poesia

Quando aterrissa,

Como a maré mareia,

Não mais.

 

sergiodonadio

 

 

 

 

 

 

 

Gabaritando

 

A vida não tem gabarito

Para se medir se está boa,

Média ou ruim...

A vida se faz, assim,

Dona de si, e de mim...

 

 

 

 

 

 

 

Na internet

 

A oferta de cura milagrosa

É um desrespeito à dor alheia...

 

 

 

 

 

A você que me conhece

 

A você que me conhece

Procure disfarçar a pressa...

A você que me conhece

Não desfaça o sorriso pelo riso...

A você que me conhece

Não tema a desgraça de não ter graça,

Que o dia hoje não foi completo,

Faltou a alegria de entristecer-se

Com a alheia patacada...

A você que me conhece

Feche a mente para os olhares

Que vierem repreender-nos

Por felizes de vez apoquentados,

Que o tempo há de viver-nos

Em nossa graça de podermos

Conhecer nossos valores,

Com jaça...

 

 

 

 

Caminho da roça

 

Plantios de milho e carinho,

No milharal a canção do exilio

Ao sabor do sal do suor...

Carreador ladeado de gramas

Onde ciscam passarinhos

À procura de sua colheita

De milho desmanchado

Do sabugo jogado seco

Nesse chão de oportunidades

De sóbrios reinados...

A caminho dessa roça

O inesperado presunçoso

Torrão da seca ao invernado...

 

 

 

 

 

 

 

 

Faz tua prece

 

No dia hoje

Entrega tua vida

Ao sentimento de vencida...

Faz tua prece, tua pedida

De paz na guerra desistida...

Flerte com a esperança

Que te acolhe desde criança

E vai... que o tempo se esvai

Com ou sem tua espera...

Assim estilam velhas promessas

De festa e refusta o sol esteiro

Que te traz preguiça na tarde

E viagem à estela brilhante

De tua ornada esperança... 

 

 

 

 

 

 

 

Pomos

 

Dos desencontros comigo

Trago cicatrizes cerradas

Das longas vias de aviso

Levara arenga de estradas...

 

Por aqui passamos medos

Entre paisagens e nadas

Da força desses degredos

Vistos da ponte em vagas

 

Quanto vivi essa manada

De sentimentos furtivos

Deixados na desesperada

 

Procura de novos trilhos

Entre roseiras e pedradas

Saídas de cortes furtivos

 

 

 

Tempos amenos

 

Parado em hoje

Suplico à memória

Um cisco no olho seco,

Sem desperdício

De lágrimas...

Estive me procurando,

Até me encontrar

Estranhamente ativo

Na orla deste ar...

São os sonhos pequenos

Que me fazem voar

Neste tempo ameno

De expectar...

 

 

 

 

 

 

 

Aprendimentos

 

Aprendo a viver cada momento,

Desobstruir todo mal pensamento

Na espera pela volta da esperança

Crendo na palavra feito criança...

 

A lembrança é o susto de ontem,

Revigorado na ascensão de hoje,

Os lassos discorrem à meia idade

A relembrar tropeços em passos

 

Deixados em rastros sangreados 

Sobre pedras pisadas de passados

Em formatos sutis às decepções

 

Dada a desaconselhada cincada

Sofrida nas perpetuações aladas

De asas frágeis à voluta enseada

 

 

 

Tempo de esquecimentos

 

Depois de décadas vividas

Entre paixões sobrepujadas

Esquecer insanos atropelos

É quase erosão ressequida...

 

Aqui somemos os males

Distribuídos em halos

De forras desinibidas...

Tempo de esquecimentos

 

De taxas fósseis das idas

Aos quintais de petrinas

Avoadas de seios ilhados

 

Em torno de nossos atos

Desatados de aços latos

De outras telas revividas

 

 

 

Memórias

 

Me esqueci das palavras que

Tenha dito em épocas furtivas...

De quando em quando alertava

A memória de datas festivas,

 

Mas não lembro desses dados,

Escritos à revelia das verdades,

Hoje dessumidas realidades...

Esqueço do que comi de manhã,

 

Esqueço do que extraí de setas,

Mas deixo minha fraca memória Escrita em palavras verdadeiras!

 

A alma não envelhece, suspira

A febre do corpo doente, e reza

A amainar a dor lítica da mente

 

 

 

Urtigais

 

Coça... coça... coça...

Só quem sentiu é que sabe

Quanto coça o pelo da urtiga

Na perna nua dos garotos

Dessa época de coceiras...

E meandros e desinterias

Por causa de mascar flores

Para saber-se macho entre

Meninos crassos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Consertadores

 

Acompanho

Reformas ávidas,

De casas e pessoas,

Conserta-se telhados

E ações diversas...

Evitando goteiras

E furos passados...

 

 

 

 

 

 

Brandi minha bandeira

Divergindo de meus pares, conscientemente...

 

 

 

 

retalhos

 

feita de retalhos,

costurados pelo

tempo vivido,

a vida faz sentido

nos remendos floridos...

não nos enganemos

com flores desavisadas

de minutos desavindos...

é dos retalhos emendados

que se compõem

os lírios...

Nenhum comentário:

Postar um comentário