domingo, 29 de abril de 2018


Anuário para minhas dores


Sentindo-me
Portador das encomendas
Respiro esse ar
Das flores olorizadas,
Esse som das larvas
Mastigando folhas,
Esse farfalhar
Feito ao vento…

Não sou eu
Que vivo esses momentos,
Esses instantes
É que dividem comigo
Seus valores,
A água a mourejar da pedra
A pedra a brilhar da água,
Borboletas
Passeando sobre flores
Emancipadas…


Não sou eu
Que vivo
O que o som delata,
Somos parceiros,
Sim, dessa efeméride,
Embora me ache
Senhor das intempéries
Apenas capto
Essa vida em redor de mim
A me mostrar
A independência
De seus atos,



Assisto
A nascimentos
E funerais da espécie
Que viceja à próxima
Primavera suas cores,
Enquanto assisto
Esse féretro acinzentado
De meus valores…
Absorto ao dado fato
De que apenas eu
Não voltarei renovado
Com as águas
Do próximo agosto.

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