sexta-feira, 10 de agosto de 2018



As folhas, no outono,
Não caem, passeiam
Ao vento...







O cão é tão lobo
Quanto o lobo é um cão
E nós, domadores,
Somos culpados...




À noite

À noite
As sombras se desfazem
Em fantasmas do passado,
Sonhados livres
Por estarem mortos...
À noite
As virgens sonham homens
E todas as possibilidades
São possíveis
E nada aflora mais que o plano
Para o próximo dia,
Talvez a alegria ou nostalgia,
Depende da idade em perspectivas
Lembradas vencedoras
Ou vencidas...



Colocações

Onde cabem os verbos
Que se substantivam?
Dá pra maravilhar a maravilha?
Segundo Leminski, sim!
Tanto quanto se pode
Parasitar um parasita
E eleger, com alegria,
As peças “pecificadas”
De cada mesa ou cadeira ou sombra,
Sombreados e encadeirados
Como peças novas na etimologia...
Ao ortografar-se a ortografia.
Mas antes que se diluam verbos
Em substanciarem-se adjetivos
Que ao tempo se refazem
Em monocromia.


Se for difícil

Se for difícil
Congraçar-se ao todo
Divida em partes,
Desiguais mas tácteis...
Se for difícil
Aceitar-se probo
Salve-se a própria alma
Ao logro...
Mas, Se for difícil
Creditar-se disso
Sem a culpa a penar-te,
Assuma... Assuma
Que seja tu apenas
Parte.




A rua das tardes

Ao meado da tarde
Esses cães de caudas abanando
E dentes afiados pelos arames
Defecam no jardim
Da senhora cuidada...
A rua é da rua...
Ali mandam os mendigos
E os meninos saídos das aulas
Com sua tagarelice de piadas,
A rua é de todos os passantes
E as bicicletas e motos afugentam
Os caminhantes com suas bengalas...
A rua é de ninguém
E ninguém manda que partam
Cães e velhos para as calçadas...
Ao meado da tarde
Surgem novidades...



A rua é de quem
Se materializa em apartes...
O eco dessas passagens
Levanta o pó do silêncio
E ressoa aos ventos
Sua arbitrariedade...
Mas eles têm pernas ágeis
E fogem, cães e meninos
E velhos e alardes...
A rua é o pó que assenta
Nos portões e capôs de carros
E nos móveis dos avarandados...
Isto é a rua
Nos meados das tardes...
Apenas ao esbugalho
De dentes afiados.


Cuidado, frágil.

O povo já não tem condição.
- MAS TEM CORAÇÃO!
Alerta às ofertas mirabolantes,
Alerta aos salvadores das vidas.
Quem fez a Pátria perdida?
Quem usurpou à deriva?
O povo já não tem fígado
Pra tanta intoxicação!
O povo já não tem cabeça
Pra tanto chapéu,
Como não tem perna
Pra tanta maratona,
Ou braços pra tanto abraço...
Mas tem juízo quase perfeito
Pra filtrar cada desprezo
Crocodilado a seu jeito...




Como o tempo passa,
Até a uva vira passa...







O sonho de ontem,
Pesado ao zelo,
Hoje pesadelo?








O amor,
Que se preza como tal,
Ama até o mau?






Ditado torto

“O bom filho
A casa não torna”
Mas não esquece.






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