segunda-feira, 20 de agosto de 2018





Floradas



               poemas





















O tempo passa
Como passa o trem,
Quem não se atrela
Não viaja.









As dores dos sobressaltos

Eu poderia ter sido
Um poeta de versos doces
Mas o que me aciona
É o amargo das vidas
Que vejo e choro...
Choro, mas fecho os olhos,
Deixo o falar sobre,
Sem lágrimas...
Eu poderia ter sido
Mas fiquei-me cáustico
Frente aos fatos de relatos.
É muita dor
Pra pouco espaço.








Cerrados

Enxergar
As mazelas
Do mundo
Dói...
Por isso
Fechamos
Olhos
Ao redor.













Abancado

Neste banco,
Entre roseiras,
Me sinto incômodo,
Então me distancio
De seus espinhos...
Olho absorto
A paisagem humana,
Que sei espinhosa...
Assim agem todos
Se te veem chorando
Dizem-se pesarosos
E se mantém longe
De seus espinhos...








Resistência

Onde não moram
Os meninos sábios?
(Por favor, não
Me enterrem com
Os trotskistas)
Corrompido
Com o que se perdeu
Em palavras amargas
Desses sábios meninos...
- Algum deles sou seu?
Não me confundam
Com idealistas.
A minha lavra
É o tempo vencido,
E o por vencer...
Quero usufruir desse
Capitalismo capenga,
Que o sonho deles
É menor que o meu,
Sendo eles melhores
Que eu.
Ajeites

A vida compõe-se
De momentos,
E todos esses momentos
Que compõem a vida
Devem ser vividos,
Bons ou maus...
A cada sentido.
Prefiro esperar
O próximo acontecido
Para definir
Se o atual foi bom ou ruim,
Preciso medir
Com o compasso do tempo
Se o que fiz e o por fazer
Se integram...
Ou se desintegram
Ao amanhecer...




Sonhos impossíveis

Quero voar...
Voar tão alto
Para ver a terra
O planeta água...







O contador
de estórias
Está cortando
história.








Não me abismam os mortos.
Que os mortos não se assustem...
Os vivos temem a morte,
Os mortos dissertam a vida...







Talvez o tempo passe
Eu não perceba,
Vivo cada dia
Um passado novo...






Permanência

Hoje revisito
Pessoas
Que eu bem quis...
E que bem
Quiseram-me.
Hoje revisito
Palavras
Que eu bem disse
E por bem ditas
Ficaram...











Bano

Engraçado como
As pessoas se reservam.
Meu ex-vizinho,
(morto há algum tempo)
Era casado com uma amiga
De infância, mas eu não a via
Por aqui, nem varrendo
Ou recolhendo a correspondência,
Deixando o lixo na cesta...
Reclusa? Enigmática?
Ou eu distraidamente
Não lhe prestei devida atenção?
Agora se foram sem que os visse
Partindo de nossas vidas...
Sinceramente indevidas.








Versificar
É apenas outro modo
De ver a vida...







Caminhos sempre há,
Uns floridos,
Outros desérticos,
A escolha é nossa.







Outonares

Está certo,
Não estamos
Florindo mais,
Mas conservamos
Nossas raízes
Fincadas neste
Solo de antes...
Para sustentar
A nova florada
Dos primaveris
Descendentes...
Florar é primaverar,
Estamos outonando...










Retratos

Fotografar um momento
Não é o vivido momento,
É apenas o sorriso xis
Desse momento.






Viver dói menos
Que relembrar
O vivido...










É preciso
Filtrar a memória,
Lembranças podem ser
Saudades ou remorsos...
As piores são as insensíveis,
Como quando vir alguém
Padecendo dores
E não puder fazer nada...
Então, filtre!
O dia amanhã será
O rescaldo de hoje...
É preciso filtrar... Filtrar
É esquecer a dor,
Mesmo a alheia.

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