quinta-feira, 27 de setembro de 2018


Teus medos

De tua cara em negro
Faço-me teu segredo
Que não comporta
Impedimentos,
Na fase das fazeduras
Sou teu primeiro medo,
O que frequenta teus sonhos
Desninhados hoje
Frente ao itinerante passo
De arremedos...
Seria lícito superar
Novos degredos
A cada teu novo medo?








Quando tinhas asas

Quando tinhas asas
Voavas teus sonhos...
Enquanto meditavas.
Com o trampo forte
Perdendo-as
Nas responsabilidades
De novos tempos
Sobre ocasos distraídos...
E nada... Nada disso sobra
Para o dia vindo agora,
Sem apelo à força
Acreditada destino.











Somos mesmo racionais?
Mas me parece que outros
Sabem melhor que nós
Admirar os sóis das manhãs...









Ah, o belo verso
Tornou-se o
Na perseverança
De rele-lo...




Cemitérios floridos

Certas coisas
Não mudam,
Cemitérios floridos,
Ruas sujas,
Praças e seus mendigos...
Mesmo que a cidade
Cresça
E seus novos meninos
Se embebedam...
Sem novidade,
São cinquenta anos
De boemia,
A cidade e seus habituais
Morcegos,
Que dormem
De cabeça pra baixo
E suam no inverno
Seco...



O trampo

Passamos a noite,
Mal dormida,
Pensando o trampo do dia
Seguinte...
No dia seguinte, hoje,
A força do itinerário
Pôs-se a gerir os passos
E os gestos domados...
Tomamos da força
A força de cumpri-los
Embora contrariados
Pela preguiça da manhã
Acordada ser breve
Exílio...







Tempos fechados

Às vezes a gente gosta
De esconder sentimentos...
Há um relento entre ofertas
E detrimentos.
Às vezes a gente expõe
As vísceras, que, expostas,
Refazem-se em ventos...
Às vezes um pássaro
Sai de nosso peito
E canta...

Assim como cantam os pássaros livres,
Não como o choro dos pássaros presos.

Às vezes o tempo muda
Dentro de nós, abruptamente,
E nos pega sem guarda chuvas...
E está chovendo.



Puro sem gelo

A paz deste momento
Me acaricia...
Sei-me novo frente ao ontem,
Amanhecido hoje
Novo dia...
O elã que se forma em torno
Diz-me coisas que não sabia,
Sei-me assim desfeito em iras...
Em todo o dia embebido em poesia,
Puro, sem gelo, sem fantasia,
É a espera que sonhava vinha
Desse momento, embora seco,
Pura euforia.








Eternos indigentes

Os pássaros estão cantando,
Os cães estão ladrando,
Os gatos estão observando
Ninhos deixados à mercê...
Só as pessoas estão dormindo
Nessa hora da manhã,
Véspera de domingo...
Amanhã haverá eleição,
Que tanto faz para os cães
E pássaros e gatos e mendigos...
Apenas pensantes preocupam-se
Com o resultado deste domingo.
O dia amanhecerá o mesmo
Na segunda feira, como sempre,
Mas será diferente para pessoas
Que se puseram a escolher
Seu próximo matador.
Aos pássaros e cães e gatos
Isso não importa,
O que importa a eles
É fugir dessa dor.


Vejo tudo com bons olhos
Porque meus olhos
Não se perdem
A acompanhar maus olhados...







Quintantes

A distância dos astros
E sua visão acima do horizonte
Faz-me observador das arestas
Desse sol posto antes...




Doce vima

Plantamos palavras
Como o caboclo
Planta sementes,
A colhedura pode seja
Fruta doce ou jiló amargo,
Mas será colhida ao gosto
Do plantado...
Prestemos atenção ao dito
Cada vez recitado explícito,
Será o mesmo fruto de antes
De que seja escrito?
Plantemos palavras doces
Mesmo que a dor as inspire duras,
Façamos dessa colheita
A paz semeada em leiras
Feitas a cabo de enxada
E caneta... E esperemos...
Que se frutifique bonança
A cada regada feita
Nos fins das tardes
Lavradas videiras...



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Para impressionar

Mendigos vestem trapos
Para impressionar?
Novos artistas se despenteiam
Para impressionar.
Pastores vestem roupas fechadas
Para impressionar.
Padres usam colarinhos brancos
Para impressionar.
Advogados vestem ternos pretos
Para impressionar.
Juízes vestem-se togados
Para impressionar.
Mendigos vestem sujos
Porque é o que dá!


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