sexta-feira, 1 de maio de 2020


Caminho estreito

Este, que leva à olaria...
Cantos de colhedeiras
Chorando sua alegria...
Carretas forradas
De sangue e cinza
À espera dos dias...
Caminho estreito,
Este que forra a volta
Descalça, terra fria,
Sem alegria do giro,
Sem alforria da ida,
Quase desapercebida...









Todas as miragens

Todas as paragens
Da vida levada a eito
São miragens de leito...
Lembrar picadas,
Fontes de águas limpas
Nesses estreitos...
Inda sofremos a sede
Que amarfanhava a dor
De ver distâncias...
Longe a promessa
De fresca, de sombra,
De assossego...
Nas paragens de ontens
Fomenta despejo...







Fundições

A ferro quente na brasa
Se esculpe à vontade...
Fundida onde chorava
A mãe parida...
A ferro quente se abrasa
A forma da nova vida
Onde a paisagem ameniza...
A ferro quente a guarida
Dessas pessoas levadas
Pelo pendor de partida...
A ferro quente se funde
Na armação de virada
A foz desaguada vida...
Onde se apaga a brasa
E se peita a despedida...






A palavra dada

Enfim a palavra dada,
Dita ao ouvido atento...
Aqui a promessa vaga
Impõe algum respeito...
Quem desrespeita-la?
Se diga em força ortiva
Na promessa fácil?
A palavra dada vendida
A preço de ouro pedra
Entre ourives e feras...
Auscultadores derivem
Dessa espera simples
Em sombra de calhau...
Quem pode, sem ogiva,
Lançar a bala furtiva
Que vence ao final?





Décadas de gratidão

Os corretivos d’uma vida longa
Exorcizam fases de intolerância
À dor e à pena de sorrir da dor,
Dos desejos, surpresas, fobias...

Todas apreensões fazem parte,
Tempo de alegria na desalegria,
Uma memória de ater saudade
Das arbitrariedades assumidas...

Dessa fase de discrepâncias idas
As sucessões desses momentos,
Mas a solidão entalha a seu lado

Em parte desses só mementos,
Simplesmente deixados estivar
Num canto de coração cansado...

sergiodonadio


Bem idosas

A meiga calma
Estampada nas faces
Dessas senhoras idosas
Amansa a aflitiva pressa
Desses meninos leves...
Todas as fases querem
Se ver como dadivosas,
Apenas os anos ensinam
Amparar às novas...












Todos os dias são novos

Para o bem ou para o mal
Todos os dias são novos...
Para sorrir ou chorar
Todos os dias são novos...
Para deitar ou continuar
Todos os dias são novos...
Até para desistir no meio
Todos os dias são novos...
Então fabriquemos
Um novo dia a cada dia,
Novos, com novidades,
Sorrisos ou lágrimas,
Corações assustados...
Sonhos renovados
Até que o cansaço
Force o passado...





Interstício

O que a palavra
Não consegue exprimir
Fica no ar
Para quem ouvir...
Que o canto distante
Possa influir
Nessa ausente cavidade
Da palavra não ouvida,
Talvez dita sem som,
O eco do silêncio
E sua importância
Vibra célula intersticial
Entre ouvidos moucos
E frases idas...







Tributo

Ouvi de Manuel
Que tudo é milagre,
Menos a morte,
“A morte é o fim
De todos os milagres”
Assim fosse a verdade
Mentida pelos fake
Distribuídos à mora...
Assim fosse, Manuel,
O milagre de
Tua história...










A tantas vão as verdades

A quantas vão as verdades
Nesse acúmulo de lorotas?
A força de cada mentira
Atida em cada idade...
Do medo da chinela
Ao medo da verdade...
Atar-se a cada estória
É foco dessa vaidade
De estar certo na frase
Que pede veracidade
À falsa escusa das partes...
A quantas vão as verdades
Nessa balburdia formada
De opiniões deslavadas
Às mentiras creditadas?
A quantas vão as verdades?
Talvez à necessidade
De pendurar-se ao galho
Na correnteza de nadas...


Procura-se

A poesia procura poetas
Nesta constelação de estetas...
Atletas do lápis e ideias
Vinde à poesia certa,
Esta que a ti afeta
Antes de ser redigida
Em versos de esquadrinha...
Confesso que inda procuro
A palavra certa para e poesia
Que falta à letra morta,
À palavra torta, que entorta
A ideia antes correta
Na fala que me vinha...









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