sábado, 19 de setembro de 2020

 

Cercados

 

Essas cercas elétricas

São a evidência da insegurança

Dos inseguráveis...

Elas cobrem o sol com peneira,

Cuidam mal das casas,

Se associam aos larápios

Que se fortalecem em quebra-las,

Essas cercas são ilusão inusitada

De uma segurança falha...

 

 

 

 

 

 

 

 

Todas as pernas

 

Todas as pernas

Passarão a perna

Nos incautos transeuntes

Que recolhem nas agências

Suas migalhas e saem

Com sorriso que os delata.

Todas as pernas correm atrás

Desses que colhem migalhas,

Os abonados têm suas contas

Arrumadas em sites

E não saem de suas mesas

Para sacar partes...

 

 

 

 

 

As passagens bíblicas revisitadas

 

Se repetem a cada novo ato

À sombra das arapucas…

Emergem a cada desgasto,

Um Caim para cada Abel

Na turva das negociatas.

Cobras ofertantes não faltam,

Com todas as maçãs, das doces

Ao gosto das amargas…

A estupidez genérica espanta

Às impressões digitadas.

Quem se pode salvar da oferta?

Agora o “santo”, o que nada sabe,

Volta ao noticiário onde a bíblia

Se repete nos judas de cada fase…

Além das sobras e retalhos

A força do metal se impõe,

Trinta dinheiros nessa babel

De expressões indecifráveis...

 

Entrelinhas

 

O tamanho do poema

Depende da imaginação

Do que foi escrito e não...

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre os ombros pesa

A melancolia do dia ido...

 

 

 

 

 

 

Mal-usados

 

São peças que deixei

Ao correr dos tempos

E já não cabem mais

Na cintura elenca...

Pessoas que esqueci

Nessas gavetas vagas

E já não lembro mais

Na memória tensa...

São passos que não dei

Na pressa da viagem

E já não uso mais

Na passada lenta...

Assim a vida vai

Me fazendo troças

E já não rio mais

Da desgraça alheia,

Essa que me isenta...

 

 

Paredes azuis

 

As paredes ficam azuis

Quando tudo parece branco,

A memória nos põe em fogo

Ao trazer velhas canções

Que insistem no pensamento,

Invadem outras razões

Na desrazão do tempo...

Assim como vêm, se vão.,

O silêncio sobrevoa,

Parece uma boa música

Para o momento tenso...

Não há paixão, nem amor,

Que aguente a solidão...

As paredes ficam azuis

Nas luzes que acendem,

O branco já não é branco,

No sujo das claridades

Azula o pensamento....

 

 

Nulidades tensas

 

Tarde, talvez seja mesmo tarde

Para chorar dissentimentos...

Alguém está morrendo hoje,

De nosso relacionamento...

Que pode seja amor em sendo ódio,

Ódio não, que nunca me dei

A este extremo de desquerer...

Mas uma vaga sensação de vazio

Parte deste momento a fazer sorrir

Para não chorar a perda...

Talvez seja tarde para sentir remorso,

Mas não para aquecer saudade...

Que tempo é este, que não parte,

Quando tudo mais desimporta?

Talvez seja tarde para sentimentos

Mas é o que resta da vida toda,

Solta entre nulidades tensas...

 

SERGIODONADIO

 

Seleta

 

A memória

Se desfaz com o calor

Embora haja situações

De cansativa refrega

Que não se apagam

Ao tempo veraneado...

A memória seletiva

Atrai ideias seletas

Para jogar em frente

O que se jogaria fora

Não fora a inclusão

De momentos reais,

Imaginados prontos

Para guardar...

 

 

 

 

 

 

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