Cercados
Essas cercas elétricas
São a evidência da
insegurança
Dos inseguráveis...
Elas cobrem o sol com
peneira,
Cuidam mal das casas,
Se associam aos
larápios
Que se fortalecem em
quebra-las,
Essas cercas são ilusão
inusitada
De uma segurança
falha...
Todas as pernas
Todas as pernas
Passarão a perna
Nos incautos
transeuntes
Que recolhem nas
agências
Suas migalhas e saem
Com sorriso que os
delata.
Todas as pernas correm
atrás
Desses que colhem
migalhas,
Os abonados têm suas
contas
Arrumadas em sites
E não saem de suas
mesas
Para sacar partes...
As passagens bíblicas revisitadas
Se repetem a cada novo ato
À sombra das arapucas…
Emergem a cada desgasto,
Um Caim para cada Abel
Na turva das negociatas.
Cobras ofertantes não faltam,
Com todas as maçãs, das doces
Ao gosto das amargas…
A estupidez genérica espanta
Às impressões digitadas.
Quem se pode salvar da oferta?
Agora o “santo”, o que nada sabe,
Volta ao noticiário onde a bíblia
Se repete nos judas de cada fase…
Além das sobras e retalhos
A força do metal se impõe,
Trinta dinheiros nessa babel
De expressões indecifráveis...
Entrelinhas
O tamanho do poema
Depende da imaginação
Do que foi escrito e não...
Sobre os ombros pesa
A melancolia do dia ido...
Mal-usados
São peças que deixei
Ao correr dos tempos
E já não cabem mais
Na cintura elenca...
Pessoas que esqueci
Nessas gavetas vagas
E já não lembro mais
Na memória tensa...
São passos que não dei
Na pressa da viagem
E já não uso mais
Na passada lenta...
Assim a vida vai
Me fazendo troças
E já não rio mais
Da desgraça alheia,
Essa que me isenta...
Paredes azuis
As paredes ficam azuis
Quando tudo parece branco,
A memória nos põe em fogo
Ao trazer velhas canções
Que insistem no pensamento,
Invadem outras razões
Na desrazão do tempo...
Assim como vêm, se vão.,
O silêncio sobrevoa,
Parece uma boa música
Para o momento tenso...
Não há paixão, nem amor,
Que aguente a solidão...
As paredes ficam azuis
Nas luzes que acendem,
O branco já não é branco,
No sujo das claridades
Azula o pensamento....
Nulidades tensas
Tarde, talvez seja mesmo tarde
Para chorar dissentimentos...
Alguém está morrendo hoje,
De nosso relacionamento...
Que pode seja amor em sendo ódio,
Ódio não, que nunca me dei
A este extremo de desquerer...
Mas uma vaga sensação de vazio
Parte deste momento a fazer sorrir
Para não chorar a perda...
Talvez seja tarde para sentir remorso,
Mas não para aquecer saudade...
Que tempo é este, que não parte,
Quando tudo mais desimporta?
Talvez seja tarde para sentimentos
Mas é o que resta da vida toda,
Solta entre nulidades tensas...
SERGIODONADIO
Seleta
A memória
Se desfaz com o calor
Embora haja situações
De cansativa refrega
Que não se apagam
Ao tempo veraneado...
A memória seletiva
Atrai ideias seletas
Para jogar em frente
O que se jogaria fora
Não fora a inclusão
De momentos reais,
Imaginados prontos
Para guardar...
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