sábado, 5 de setembro de 2020

 

da minha sorte

 

No flanco da minha sorte,

Ou seria destino ao qual me destino?

Acontecem acontecências

Que não dependem, ou sim?

Da minha vontade de agir ou calar...

Que o tempo de lamuriar

Já é posto no passado, ontem,

Com certa sinceridade,

Chorei ou sorri a verdade

De meus dias diversificados...

A diversidade de cada momento

Fez-me cético e hilário,

Sobre os fantasmas

De meu diário...

 

 

 

O que tens de teu?

 

Ou pensas ter?

O cão que compraste é teu?

Os bens que acumulaste, são teus?

A despensa cheia é fartura?

Quem sabe o que de teu sobrará

Antes da sepultura...

O que de valor não tem preço,

Então o cão não é teu,

Se assim o fosse não precisaria

Prendê-lo acorrentado...

Os bens que adquiriste,

É sobra de alguma pieguice...

A despensa se esvaia

Com tua fome de um dia...

Cuidado com o que pensas teu

Pois se evapora no adeus...

 

Não tenho nada de mim

 

Não tenho nada de mim

A que me presto,

Mesmo a força, que tive,

Foi-me de empréstimo...

Devolvo à terra o que me veio dela,

Cercado nesta cidadela...

Pensei-me seguro, a um tempo vário,

Agora posso arguir de meus préstimos

O que fica por acréscimo

Ao que me fui deixando restos...

Não tenho nada de mim

Que me console, além desse cansaço

Que me põe exausto só de pensar-me

Indo à janela auscultar a banda,

No seu rastro de lesma,

Pendurada na nela...

 

Alguns poetas morrem cedo

 

Alguns poetas morrem antes,

Talvez mal alimentados

De esperança...

Em suas fases vitais

Concorrem com certos cães

Que não se amestram

E fogem dos canis,

Atarefados em seguir instinto

De chorar passados...

 

 

 

 

 

 

 

 

Às quantas horas

 

Há tantas horas

Tua chave abre-te portas,

São tantas chaveiras

Que confundem tuas vontades...

A quantas horas

Consegues discernir a estória

De uma derrota?

Se, ao abrires a porta

Tens de enfrentar os mesmos

Perigos de um dia antes?

A quantas portas

Tua hora abre-te com tais chaves

Tortas?

 

 

 

 

 

 

Se as forças que tiveste um dia

Acumulasse em tua letargia

A paz deste momento não seria...

 

 

 

 

 

 

 

Por todo chão pisado na vida

O prêmio possa ser alegoria,

De somar lágrimas vencidas

E tornar tristeza em alegria.

 

 

 

Cronologia

 

Entre lamúrias

E choramingos

O tempo ensina:

A paz de idade madura

Faz o cardápio de cura...

A mão estendida

Diz a verdade amorosa,

Quem põe o braço

Na chuva é a viúva...

Quem sabe esses versos

É antigo tanto quanto

O alfabeto dividido

Em vogais e consoantes

Do tipo antes que

O tempo estrague

O encanto...

 

As verdadezinhas

 

Hoje estou a dar meus cabelos brancos,

Símbolos do cansaço que me dói tanto...

Quem dera pudesse somar os anos

Perdidos na ilusão dos silêncios...

Das alegrias somo as querenças,

Das desalegrias as desavenças...

Ah, se pudesse subtrair aos trancos

Cada maledicência, e deixa-las

Nas barrancas em que me foi apoio...

Ofereço, sem custo, o semeado de boas novas e sinto o amargo das derrotas...

Mas não assim o esperado aos plantios,

Bem-intencionados, mas secados ao frio...

O que me sobra, seja de boas lembranças,

Seja de sustos na memória... quem me queira ainda troco fios de cabelos brancos pela volata despregada ao verbo... 

Aula

 

Ensina-me

Como devo amar...

Que o tempo

Venha me ensinar...

No canto do passarinho,

No poema de estalo

Entre a flor e o ninho...

Ensina-me, ternura,

Como devo amar

Cada criatura...

 

 

 

 

 

 

 

Camping

 

Algumas horas,

Perdidas ao acaso,

São a fantasia do dia...

Tablado partindo,

Outra enseada...

Lona estirada

Trailers engatando,

Vida de sonho

Entre paradas

E o intenso labor

De montar lonas

E desmonta-las

Pleno inverno...

Algumas horas

São quase nada,

Espiando...

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