domingo, 13 de setembro de 2020

 

Dúvidas

 

A premissa,

Quase sempre verdadeira,

Só não acerta a hora despertada

E põe-se a migrar para outra

Hora menos amada... na verdade

Os cães ladram a caravana para,

Assim se corrige velhos ditados,

Que perderam o sentido

Devido à pressa dos indecisos

Em manada...

 

 

 

 

 

 

 

Todas as mortes são naturais

 

Segundo adágio da Princesa,

Que sentenciava: “Por morte

Natural por enforcamento”

A família real perdeu

A batalha de cem anos,

O palácio da princesa

Pertence, em verdade, à União,

(Por morte natural?)

Definitivamente...

 

 

 

 

 

 

 

 

O tempo em dois tempos

 

Para mim, para nós,

O tempo se divide em dois:

O tempo da espera

E o tempo do depois...

Assim, são os escaravelhos

A fuçar nossos dedos

Em torno dos monturos...

O segundo tempo

Se faz presente quando,

O mundo se acabando,

Se investe no futuro,

E põe-se a derrubar muros,

Cada tempo tem seu claro,

E seu escuro...

 

 

 

Cerdas de aço

 

Essas que burlam as contingências,

Às barbas malfeitas, desgrenhadas,

Grudentas em seixos repisados,

Sentem a dor dos que os pisam,

Sem revolta, onde nascem os heróis

E fenecem os que reprovam...

As vidas são desiguais,

Desaguam na mesma cova,

Os murais pichados são a prova

Da existência de anais, desastrosas,

Não há revolta nas cerdas de aço

Que se açoitam em resposta...

As folhas secam nos costados,

Mas vão ressurgir na tarde

 Brilhosa...

 

 

 

 

Por isso não há revolta

Entre apanhadores de vime...

Por isso esta compassiva

Espera pelo divino,

Mesmo que nunca venha

Socorrer os desassistidos...

A fé é maior que a dor

Que já abranda no falecido...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Incensários

 

O incenso

Era para trazer felicidade,

Mas a felicidade dependia de grana,

Como grana não existia, felicidade,

Nem acendendo incensos,

Nem criando um incensário

Para os romeiros incensareiros,

Cuja fé atravessa montanhas,

Mas não as move,

Como diz o ditado utopista,

Sobre a sorte...

 

 

 

 

 

 

No minuto atual

 

A presença do pensar sonoro,

Como sinos às seis horas,

Já ao romper de nova aurora...

O corte sangrando a dor,

A demonstração do amor

Entre as pessoas vãs e pessoas vilãs...

No minuto atual a dor se relaciona

À morte desses semimortos...

Não choro a morte,

Que é o princípio da vida,

A que vem para descansar o corpo

E nos dar guarida

Em novo horto, que nos espera

Em confronto com que

Apreciemos o outro lado,

Sem estorvo....

 

 

O papel em branco

 

O papel em branco

é quase tudo,

Em sendo quase nada...

Depende da paz do momento

Para a folha se tornar

Alguma coisa palpável

A ideia de não apressar

A apreciação

Da parte em branco

Nas entrelinhas fartas

De razão...

 

 

 

 

 

 

Grito em silêncio

 

Grito em silêncio porque

Ninguém escuta

Um grito muito alto

Rivalizando

Com fogos de artifício...

Então me calo, bem alto!

Me sufoco de silenciar,

Me engasgo de calar

E volto-me para

Meu princípio de vida,

Quando tudo era feito

Para ficar...

 

 

 

 

Ranger dos jacarés

 

Da para descobrir

Se as pessoas são confiáveis

Pelo jeito com tratam os confiantes...

Esses que se pensam sábios

Por discutir suas verdades

Quando em verdade discutem

O sexo dos anjos...

Em reuniões intermináveis

Se igualam ao canto do galo

E ao ranger dos jacarés

Por motivos vagos,

Motivados pelas manhãs frias

Só por estarem frias...

E se desdobram em alegrias

Nas desalegrias, finda aqui

O que seria verdade não fosse

Obviamente mentira...

Florescências

 

Sobre a campa

Floresce a flor

Onde se plantou

O homem finado.

Assim a vida responde

À oração de quem

Encerra a vida

E esquece...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao rigor da lágrima

 

A lágrima se oferece

Como salvação...

Talvez apenas como

Lenitivo à dor...

Mas é gratuito

Chorar sentimentos,

Seja tristeza ou alegria,

Talvez felicidade

Pelo encantamento

De desfazer o logro...

Mas será sempre

Rigorosamente

Uma lágrima

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