sábado, 5 de setembro de 2020

 

Eu preciso de um adeus

 

Não e de um até logo,

Amanhã, talvez, encontremos

A saliência entre nós...

Mas já não é sem tempo

De ascender ao limite

E constatar a vigência

De um adeus definitivo

Entre seres que se apreciam

Mas que não se encontram

No mesmo patamar

De loucura...

 

 

 

 

 

 

A claridade do tempo

 

A claridade deste tempo

Atrai moscas e baratas e pejos

Neste sol miúdo desde cedo

Mugindo ao florescer de cactos

Na poeira dos suores em tédio...

A claridade deste tempo

Traz esta preguiça reboleira

Para as manhãs difíceis

De sonhar placebos...

Que remédio, cara minha,

Sarará as queixas desde dia

Em meio, se até o sol espreguiça

Logo cedo?

 

 

 

 

As cores do tempo

 

A cor que o tempo vivido colore

Entre dores vivas e viúvas mortas

Que o opaco tempo explore...

O tempo de vivências remotas

Traz, no seu bojo, uma lista

De cores mudas na muda do tempo...

Ao som das cores inertes,

Deixadas sorrir aos lírios brancos

E às rosas amarelas envergonhadas.

As cores do tempo fulgem

Ao toque de olhares plausíveis...

Quem pode discernir,

Senão a própria luz,

Que colore o tempo

Que nos seduz?

 

sergiodonadio

 

 

 

Os sentimentos

Têm mais sentidos?

Tenhamos a paz de

Não os saberes vivos...

 

 

 

 

 

Gestos se desculpam

Mais que palavras...

 

 

 

 

 

 

A casa triste

 

Quem pode me julgar

Pelo que não fiz,

Se feito está, e machuca?

Quem pode perdurar

À força bruta?

Assim,

Seria melhor esquecer

Cada labuta

Se trouxe mais tristeza

A cada luta...

 

 

 

 

 

 

 

Gemidos

 

Todos os cais gemem

À dor dos refugiados...

Seja em 1888 com os europeus,

Seja logo após com os asiáticos,

Seja hoje com haitianos, foragidos

Da fome em seus lares de origem...

À chegada dos famintos,

Meus avós, inda adolescentes,

Comeram cascas de frutas

Para minimizar o desespero

Da fome em fim de feiras...

Todos os cais gemem sem revolta

A dor dos chegados de África

Em séculos passados, ou agora,

Quando as fomes gemem

Nos cais das gaivotas,

Que não se importam...

 

 

Ah, se soubesse, em menino,

O que sei agora,

Este canto vespertino

Me seria aurora...

 

 

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