sexta-feira, 3 de março de 2017

A batalha


Eles correm para não perder
O trem,
A vigência do contrato,
A carga da betoneira…
Enfim,
O jogo de todas as regras
Aduaneiras…
Eles correm pela manhã,
Riem de suas pressas,
Choram,
Se indispõem com as sobras
Das arrumadeiras…
Eles se ferem no rosto,
Nas mãos,
No conceito de liberdade,
Há muito perdida…
Eles se socorrem
Como fora os fins de tardes
O fim de vidas.







Eles continuam
Quando perdem um dedo
Ou um olho
Ou mesmo a fé
Nas esperanças esquecidas…
Eles pilotam
Carrinhos de mão,
Elevadores e suas cargas,
Contêineres acalorados…
Ele não se revoltam
Com quase nada
Além de suas forças
Nos braços,
Nas pernas andadas…
Ele se esforçam… Se esforçam…
Atrás de um sossegado bar
Nos seus fins de tardes,
De onde voltam bêbados
De irrealidades.







Eles envelhecem cedo
Som suas feições rugadas
Pelo sal dessas batalhas,
Aparentam suas velhices
Aos quarenta anos
Ou menos…
Eles se transportam
De senhores e senhoras
A troco de suas horas
Mágicas…
Eles se sacodem nas janelas
De “transporte de trabalhadores”
Pelas vias poeirentas
Dos canaviais, dos algodoais,
Das trilhas colheitadeiras
Dos cafezais…
Eles bebem dessa água amarga
De seus corotes
E se vão de volta
Sem um ai.






Eles se acomodam
Como sem sentido
Nessas fossas visíveis
Esgotos abertos ao crivo.
Eles se deformam
Para ajustarem-se à forma
Que lhes é exigida!
Eles não retornam
Dessas suas idas
Ao tempo escravocrata
Desses anos idos…
E quando se arrastam
Pelos anos perdidos
Eles formam outra fila,
A dos desiludidos…
E se conformam
Em terem sido vencidos
Pelo sistema bruto
Do desabrigo.







Eles se transformam
De desvalidos
A soldados desfardados
Quando a brisa apaga
A noção dos nadas
E o canto paira
Entre esmolas dadas
Pelas mãos que abatem
E se tornam fardos…
Eles são os fardos
Dessa jornada
Entre o suado labor
E os desocupados…
Eles tornam às casas,
Rezam cantorias,
Criam seus cajados,
Mordem a própria isca
De desalojados
Pela imperícia
Dos periciados.
Eles tornam à vida
O dia feriado.

Tudo abandonado em volta da cama


Estranho como as coisas
Morrem com seus donos…
Enterramos o companheiro
E vamos guardar suas tralhas,
Seus sapatos estão mortos,
Suas calças, seu relógio de bolso,
Seu boné de feltro,
Abandonados na gaveta,
Inclusive a cama desfeita.
Nós temos tudo que não temos,
Donos de cães e gatos,
Casa e terrenos… Gado…
Gado a perder de vista,
Entre acordos e extremos,
Sonhos que a realidade destitui,
Nossos cães e gatos são patrões,
Nossos domicílios são de menos,
Gados pastando ervas
Sem se reconhecerem propriedades.
O que temos, enfim, que temos?
Talvez no futuro a saudade.

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Tudo é discutível
Se alguém resolve faze-lo,
Até a idade da razão
Último apelo…









Todos temos
Arcanjos no nome,
Poucos os tem
Na consciência…









Dos velho passantes
Ficaram as sombras
Que se deligam deles,
Cambaleantes…






Propalado


Assisti algumas missas,
Desacreditando no inferno.
Agora o Papa diz o que pensava…
Mas já não acredito em nada


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