domingo, 25 de julho de 2010

Geração botãozinho

Essa nova geração se perde em virtualidades exacerbadas. Engraçado, porque em época recente o virtual seria denominado irreal, como em início do século passado o irreal seria quimérico, das quimeras a que aludiam os poetas para designar o virtual. A principio a quimera desenhava o impossível, irrealizável, a utopia, que na mitologia grega era um monstro, mistura de cabra, leão e dragão. Até hoje o “bicho de sete cabeças”, que na quimera atual veste-se bem no monstro informática e invade a (in)consciência coletiva. Não se fala mais a língua pátria, mundo afora, se fala em “informatiquez”, uma linguagem q corta vogais e vc se perde nas consoantes vazias, sem nexo para o analfabeto em abreviações. Dia desses não consegui decifrar um bilhete, que dizia textualmente: vc pg fot. Fac.? Traduzido para: Você pagou a fotografia da faculdade? Mas, para vingar esse corte, existe o outro monstro, o “enche lingüiça” das articulações jurídicas, onde um documento se estende por tantas laudas que perde o fio da meada, nos meandros. Enfim, é a lógica às avessas de: se puder complicar, por que simplificar?
Num texto de 1970, um lapso de tempo, o articulista escreve: ”agora que se apagam os fogos e as armas são ensarilhadas, pode-se fazer o balanço da carnificina chamada vestibular. As famílias onde crepitaram fogueiras durante meses, estão exaustas, pelos vitoriosos e pelos fracassados. Nada mais requintado em maquiavelismo do que a queima das provas, para evitar protestos. É a supressão do hábeas corpus na meritocracia, e os examinadores declarados infalíveis”... e por aí vai, por mais duas páginas, discorrendo nessa linguagem o tempo das quimeras, na historia que não muda, O que acontece, e aconteceu em todos os tempos, é um duelo. Nesse mundo tecnológico as armas são mais sofisticadas, não se esgrima mais com simples espadas ou se enfrenta com cartucheiras. O não acesso à computação é uma sentença de morte sociológica, que degrada e degreda o “mais fraco”. A antes luta corporal, agora é puramente mental, e o despreparado, por ineficiência do Estado em prover esse preparo, tende a ser vitimado pela massacrante máquina de cursos paralelos, e caros, elitizando as oportunidades, aí contida a computação ao nível de competir com outros profissionais. Olhando com uma lente mais apurada veremos que, mesmo para os vitoriosos, (como em qualquer guerra) o campo de batalha é um massacre.
O que a modernidade explica que já não estava no DNA da vida? Desde os tempos dos gladiadores os fortes ganham as batalhas, mesmo perdendo a razão. Então continua tudo a mesmice de antes, apenas as armas se modernizaram, mas não a pessoa.
A lógica da escolaridade é esdrúxula, conta a história que ela começa com os cursos superiores, para depois criar as escolas de níveis médio e elementar, assim, o curso primário teria surgido a menos de 200 anos, forçado pela progressão dos cursos científicos e tecnológicos, que exigiram crianças preparadas para tais empreitas. Hoje alguns lugares adotam a escolarização total, desde o berço, para que as novas gerações, com seus botões, digladiem em igualdade de condições. Isto pode, na tentativa de formar apenas vitoriosos, criar uma legião de fracassados, pela igualdade de erros?
sergio.donadio@yahoo.com

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