terça-feira, 24 de março de 2015

Cemitério de automóveis

Do livro enlevos


Os carros amontoados
Em um ferro velho
Tinham vida, traziam pessoas,
Levavam notícias, partos,
Partidas...
Quase todos estão batidos,
Abatidos, lesados,
Seus ocupantes feridos...
Alguns mortos,
Cruzes sem nomes,
Estendidos neste pátio.
Deveres descumpridos,
Alteração de hábitos
Em cadeirantes , mumificados
Autores desses estragos...
Estamos vendo o sol
De suas grades, penitências
De suas chagas não visitados
Pelos em luto.
Há uma incorreta ligação
Entre as formas de viver
E as mortes em tentando...
Corroídos pelos vícios
Alguns se matam antes,
Outros têm a paciência
De esperar a natureza,
Mas em verdade
Todos se destinam,
Em algum lugar, algum momento,
Por motivos insalubres,
Mesmo os que se prezam sãos,
A apodrecer em pé.

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