sábado, 18 de novembro de 2017

Motivamentos


Não faço versos verborrágicos,
Cotidianamente versifico
Cotidianos versicolores,
Vestindo dores despercebidas
Eu verso a vida.

Não vendo versos versificados,
Não metrifico nem centrifico,
No verso idílico apenas fico
Idiossincrásico, idiomático,
Mágico idílio.

Eu vejo versos por onde passo
E com seu passo me pacifico
Às vezes amargo, às vezes vário,
Nem sempre doces ou agridoces
Com os das feiras.

Não faço versos por brincadeira
Nem é esta a vez primeira
Que com eles me gratifico,
Não com dinheiro ou por ofício,
Faço o meu verso gratuito
Inexorabilidade


A casa,
Em que moramos por tempo,
Está enrugando...
As paredes nuas de pintura
Descascando...
As venezianas quebradas,
Partidas de envelhecimento...
Perdendo seu brilho de antes,
Deixando ver suas falhas,
Seus desalentos...
Como envileceu
A casa em que moramos...
A casa em que moramos
Inexorável espelho.









Todos os adeuses


Todos os adeuses
São doloridos...
Mesmo que seja
Um até logo...
Ou o último voo
Para longe...
Todos os adeuses
Ferem a alma,
Descompassada
Pelo momento crucial
De ter-se perdido
Olhares afetuosos,
Os gestos sensuais
Em ofertas de maneios
E sexos ativos acariciados...
Todos os adeuses
São alentos vistos
Pelo retrovisor
Das idas.




Considerações


Não há muito mais
O que fazer do tempo...
Levado a sério ou brincado,
Testado na paciência
De um cigarro...
Brotado na experiência
De um escarro...
Não há mais o que prever
Para o amanhã do tempo,
Deixado escorrer
Pelos passados...












Post morte


Sinto uma inveja
Babaca pelo que
Tem morrido hoje,
Disso falam boas...
Sussurram o quanto
Era gentil e amável...
O que deixou legado...
Uma infinda tiara
De atos falhos.
Mas eu ainda vivo
Por isso visto
Miserável.











A pessoa só


Tudo que a vida traz
A vida leva...
A pessoa estar só,
Sob a chuva,
Mesmo que esteja coberta,
A melancolia da chuva
Consente alguém em paz,
Todos se solidarizam
Nessa tristeza de olhar
E nada a se fazer
Para parar no ar
O que a vida traz.











Notícias de jornal


Do barro do qual viemos,
Material ou imaterial,
Estamos voltados...
A cada ato desusado ser,
A cada destempero,
A cada xingamento,
A cada assassinato consentido,
Enfrentamos o retrocesso
Ao barro fétido
Revivido nisso que parece
Dissolvido em átomos
Cadavéricos.
A ignomínia assumida
Nos faz cúmplices
Dessa falácia politiqueira
De sermos racionais,
Embora animalescos seres
Sem princípios sólidos
Nas algibeiras.




Balaustrados


As cercas passando pela janela
Contam a história
De homens que as construíram,
E sua memória...
De balaústres e buracos rasos
Para os mourões
Que contam suas vidas
Que passaram, e ainda passarão,
Por seus estreitos vãos
Onde só cabe olhares
E o rugido do cão.
Seremos, então, parte dessa história
De fatos verídicos ou inventados
De tiros dados a tiros guardados?
De namoros, transas,
Amores e desamores...
Passados por esses vãos balaustrados,
Enquanto o sentimento passa,
E esgarça?




Desabafo:


Por esse mundo afora...
À anarquia dos mandatários
Há uma extrema diversidade
Entre os difíceis e os fáceis...
Por esse mundo em que
Os contendores nascem do nada,
Um pra ser escudo,
Outro, espada.
Por esse mundo
Há um cão bravo, que muito late,
Mas o que mais assusta
É o mudo espionar da cobra.
Um mundo entre o conto e o fato,
Onde a mente desenrola atos,
E o mentiroso a granjear vitórias
Como fora o forte
Em sendo o fraco.






Noticiários


A mente procura consolo
Nas coisas fúteis... (inofensivas)
Ocasião em que os jornais televisivos
Dão um tempo para a propaganda,
Itens sem uso algum,
Mostrados como imprescindíveis,
Naquele varal de tranqueiras
Sobre a pia da cozinha
Ou dos banheiros,
Tão descartáveis quanto
As notícias de todas mortes,
Usadas como atrativos válidos
Pelas trambiqueiras…
Pela intolerância dos atos,
Dos soldados aos estupradores,
Que as telas mostram
Como novidadeiras…






Temos o dia todo
Para caminhar…
Mas o silêncio
Faz do tempo
Uma espera.
Na pressa de viver,
Quem pode esperar?





Eras


Às vezes
Não é o que se quer,
Mas o que se pode…
Somos do tempo do cinema mudo?
Das cores branco e preto nas telas 
rasgadas de um cinema tosco…
Das escolas de quadros negros…
De casas de madeira e das toras 
empilhadas nos terrenos baldios
E bois tangidos pelas ruas
Ao matadouro…
O que se pode agora sem as alegrias
De ontem? Estariam soterrados
Nos wathzapp? Abemolam mais?
Mas, não sabem o que sei
De pipas e lá bemol,
Estranhos meninos com medo
Das ruas, que eram nossas…
Proibidas por agora…

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