sexta-feira, 23 de março de 2018


O véu das palavras


O véu das palavras
Não encobre as verdades,
Mas há de se saber que
Pode haver uma mentira
Em cada parte da verdade:
Que se foram as crianças,
Que faleceram os idosos,
Que se casaram os gays…
Em cada fato desses
Há um pouco falácia,
Das crianças que se foram
Mas não se afastaram,
Dos idosos que faleceram
Mas não findam na casa,
Dos gays que se uniram
Mas não se depreciaram.
O véu das palavras
Protege essas verdades
Entre as tantas mentiras
Jogadas nas frases
Nas obviedades.


A realidade falha


Vejo uma cadeira
Sentada sobre
Uma pessoa,
A mesa a espiar
A cena embilocada,
A manta a explicar-se
O que de gente haja
Sob sua mantada…
Vejo um cadeira
Emborcada sobre
A realidade falha.












Aos choramingos da vida


A melhor companheira
Para o luto é a luta.








Às vezes o sorriso é um açoite,
Se vindo como desfeita
Ao que te trouxe esta noite…













A vida,
Este amontoado
De momentos
É mal entendida,
Quem tem dinheiro
Sente-se dono,
Quem não tem
Sente-se escravo…
Quem tem poder
Acha-se acima da lei,
Quem não tem
Acha que a lei não existe…
É triste… Triste…
Mas a vida amontoada
Pode ser dividida
E a c ada momento
Vivida.






O paletó na cadeira


O pai que se foi,
À guerra, à luta, à fuga…
O paletó está a cobrar
Outra conduta.
São tantos amedrontados
À espera nessas janelas
Que ventilam paletós
Pelos ombros delas…
São bastardos? Ou herdados
Dessa covarde escapada
Pelos dias fadados longos?
A precisão desses ombros,
Deixados pousar poeira
No paletó na cadeira
À espera… À espera
Da próxima saideira.







Abandono


Há esse tempo
De reviver desejos;
Ah, esse tempo
De reviver desejos…
Quererias antes
Um roubado beijo.
Quererias após
Apenas o olhar,
Depois um sentimento
Menor, o desolhar…
Mas houve um tempo,
Talvez o haja ainda,
De ouvir tamancos
A vibrar a espera
Desse tempo findo.
A outra argúcia,
De contar relances,
Pedindo a volta,
Sua falta revolta,
Que foi-se e agora
E não volta mais.


Olvidos


Chaves deixadas para trás,
Chinelos na areia da praia,
O leite fervido a derramar,
Consequências da tristeza.

Esquecer celulares e filhos
Nas agências do correio,
Muletas nos trens do metrô,
Dentaduras nos banheiros…

É… Coisas imprescindíveis
Como filhos e dentaduras…
Talvez sejam os desamores

Dos momentos prometidos
Eternos por esquecidos “até
Que a morte nos separe”.






Emoções dormidas


No silêncio da noite,
Com as emoções dormidas,
O pensamento vaga
Entre as dissoluções do dia.
Nessas comoções tardias
O susto que se propala
Faz-se febre e nostalgia,
A peça pregada te alivia.
Com as emoções dormidas
O dia finda.

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