quarta-feira, 2 de novembro de 2011

finitos


Nos olhamos
Sem qualquer ternura
Eu
E o desconhecido que caminha
Ao lado.
À frente mãos firmes carregam
O corpo do amigo comum,
Ao qual damos adeus.

Adeus?
Ilusoriamente, pois
Eu e o desconhecido sabemos
Ter o mesmo cortejo
Um dia...
Surpresos da constatação
Nos olhamos,
Agora com certa ternura.

Cúmplices
Lemos nos nomes das lápides
A diversidade
De morrer
Em horas e momentos distintos,
Iguais
Na rotina do coveiro
De cavar verdades...




Cavar os palmos,
Enterrar os ossos.
Fechar os palmos, e,
Com a mesma terra
Acompanhar a mesma reza
Doutros nomes,
Com a mesma farsa
De conformes.

Agora
Eu e o desconhecido
Nos conhecemos melhor,
Nos reconhecendo frágeis
Nas mãos hábeis desses
Homens, sobre a terra
De nossos nomes
Desaparecidos.

Estranhamos
A parcimônia de coveiros
Acostumados a enterrar
Os mortos
Como só uns ossos
Sem nomes...
Sem um ápice
de sentimento,
Hostis ao choro






O vôo da mariposa


Mais simples que parece,
Às vezes beira pieguice
À sombra do que ela desce
Pousando ovos na lousa.

A mão do homem seria
A parte ínfima do erro,
Talvez o seu desterro
Nas deformações do dia.

Pudesse eu ter esse gesto
De premeditada euforia
em dia de calor infesta

Pulsando vôos radicais
Percebe a mariposa
Seus momentos finais.










O fio do tempo


Ficaste ouvindo, anos a fio,
O fio da água...
Os sonhos se esvaindo,
As dores se avolumando,
O tempo a ser medido
Pelo fio da água.

Esses crânios brancos
Não têm palavra,
Apenas seus olhos grandes
Olham
Sem dizer nada.
Vazios de intenções
Medem a temporalidade
De sua expiação.

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