quinta-feira, 15 de maio de 2014



                                           Das apreensibilidades


A nossa provinciana Arapongas está ficando nervosa, talvez seja a idade que nos faça intolerantes, eu e ela, mas sinto esse nervosismo em suas ruas centrais, atravancadas de veículos indisciplinados, artérias entupidas são mal sinal, tanto em mim quanto nela, sendo cidade. Quando éramos adolescentes, eu e ela, vivíamos pelos sítios, que hoje são bairros, procurando pomares entre piquetes cercados de arame farpado, onde pasciam bovinos e equinos à vontade, e que agora comportam meninos desajustados para suas idades.
No cômputo geral a população brasileira tornou-se urbana muito rapidamente, no prazo de uma geração, a nossa, hoje vive na cidade 85% da população, o que parecia solução há anos, agora é um estorvo, 160 milhões de brasileiros vivem sufocados em 5% do território! No mundo todo a cada minuto são fabricados 150 carros novos! Enquanto a população cresceu 14% o número de automóveis cresceu 85%! E as motos?! Mas as ruas, desenhadas na outra geração, não podem alargar mais, mesmo nas cidades modernas, com suas avenidas, o trânsito virou um inferno!
Voltando à nossa “provinciana” Arapongas, espelho do macrocosmo que é o Brasil, o nervosismo de seus transeuntes é compreensível, embora inaceitável, pois se um motorista sai de casa brigado consigo, o outro vai pagar o pato, nos cortes à direita, nos sinaleiros, na pressa inerente aos dias de hoje, somando as incongruências chegamos ao caos.
A solução procurada no Japão poderia amenizar: Cada comprador de carro tem de comprovar antes que tem uma vaga privada para estacioná-lo. Na China a burocracia para emplacar um carro amedronta, é feito um sorteio entre os postulantes, como aqui com as casas populares, e só liberam 30% dos pedidos. Na Suécia implantou-se pedágio urbano. No mundo todo estão fechando ruas e implantando calçadões nos centros, e vias exclusivas para coletivos, tornando difícil a vida do eu sozinho no carro.
Voltando à nossa Arapongas, enquanto a população do Brasil cresceu 30% (146 milhões para 190) do Paraná 20% (8 milhões para 10)a de Arapongas cresceu mais de 40% ( de 60 mil para 104) dados do IBGE de 1991 para 2010. Assim sendo, onde e como acomodar todo esse povo, que possui 35 mil carros, e 20 mil motos, contra 3,5 milhões de carros e 1,2 milhões motos no Estado e 42 milhões de carros e 20 milhões de motos no País? Quer dizer: 1 carro para cada 3 pessoas aqui, 1 carro para cada 5 pessoas no País. Uma moto para cada 5 aqui, uma moto para cada 10 no País. Uma cidade com pleno emprego atrai gente todos os dias, prometendo o que? Mais engarrafamento a cada dia. Não que o progresso seja ruim, mas a nossa antes provinciana cidadezinha está se tornando uma insuportável fila, nos bancos, nas farmácias, nas clínicas, na matrícula nas escolas... Porque a corrida atropela as ações para bem atender, ou até mal, seus habitantes na pressa ou na sua morbidez. Somando à esta situação o fato de ser centro de atração para os não moradores, estudantes, trabalhadores, enfermos, de outras cidades, que aqui procuram socorro, seja empregatício, seja hospitalar, quem nos socorre?

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