quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015



Ditames


Não sirvo para dar conselhos,
Às vezes gostaria e ouvi-los
Com a serenidade de
Um bom auscultador...
Pensam que posso opinar
Sobre suas pinimbas.
Mal sabem que não resolvo
As minhas...
As pessoas perguntam sobre
Suas vidas
Como vi perguntarem à minha mãe,
Ela sabia as respostas
Que acomodavam os nervos.
Eu não as sei...
Eu nem sei das minhas!
Tenho uma dúzia de comprimidos
Para o corpo
Nenhum para os pendões
Da alma.









Estamos tão perto
Do que pensamos distante,
Ouvindo rumores...
Cantatas de um vento forte,
Tremular de palmeiras
Entre alvores...
Talvez estejam palmeando
As distâncias invisíveis,
Ou somos cegos?
A força dos trovões
Encurta os trechos,
A eternidade está tão perto...
Podemos ouvir estrelas
Planando em desertos,
Auscultando os homens,
Esses insetos.









Dia das minhas cinzas


Nasci numa quarta feira
De cinzas,
Quem é você nesse mato?
Quem é a moça que vem
Afagar meus pensamentos
Como a pentear madeixas
Que não possuo?
Nasci naquela quarta,
Por isso não festejo o carnaval,
Essa festa carnal não me atrai,
Não me ilude a moça
A pentear-se bela...
Não nos sabemos lícitos
Eu e ela.
Nascido numa quarta feira
Esparramo as cinzas do pensar
Às vozes que ouço dizer
Tais versos, que seriam meus
Não fora a festa anterior
A mim.





Buquês

Venho trazer-te
Este buquê de lembranças
A pensar que sabes bem
A que venho...
Venho por teus olhos lacrimados,
Venho por tua voz pedinte,
Venho pelo que há de sábio
Em vir...
Puxo uma cadeira,
Estico as pernas... Espero...
Que assim nos encontremos
Sãos e honestos
De nosso querer sincero.
Venho trazer-te
Este buquê de esperança
A pensar que sabes bem
A que venho...
Venho por teus sonhos,
Por tua vontade de viver-se,
Venho pelo que há de haver
De sábio em ti.
Puxo essa cadeira...
Estico os pensares... Espero...
Ao pé de seus altares.

Sergiodonadio.blogspot.com




Não sei por que o pássaro preso
Canta,
Mas sei por que, preso, sonho
Ter asas...
Somos ambos prisioneiros
De mesma causa.
Não encontro meus chinelos
Para pisar os vidros quebrados,
Não encontro meus motivos
Para desentender comigo...
Assim o pássaro engaiolado
Com seus pés descalços
Pisando vidros... Mas tendo asas.
Tenho meus pés calçados.

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