sábado, 14 de janeiro de 2017

Volta à casa


A palavra volta à sua casa
Depois de arguir motivos
Em pinturas, esculturas, lavras…
Volta a mostrar-se poema
Num caderno
Aberto aos sentimentos
De razões arrazoáveis…
Palavra musicada em cada verso,
Vinda das cores imaginadas
Nesse quadro paisagístico
Onde a paz é obtida
Pelo silêncio.











Dentro das derrotas


Dentro de todas as derrotas
Subsistem vitórias,
Seja pelo sangue
Ou pelo esquecimento.
Cada hora que passa mistura
Vencedores e vencidos
Numa mesma vala,
Sob a mesma brisa,
A mesma falácia esquecida.
O dia depois degenera
Em vestes esfarrapadas,
Nos vencidos e nos vencedores
Na tala esquecedora
Das trincheiras,
Na volta pra casa.








Canções do nunca mais…


Nunca mais
As mentiras dos tempos meninos
Verterão desacontecidos…
No sonhar o toque dessas mãos
Da tia que amassava o pão,
Como antes fazia…
Nunca mais
O nude será inocente,
A rua será segura…
A mãe a acordar as gentes
Nessa cinza das horas puras…
Nunca mais…
Eu digo que o mundo está diferente
Mas na verdade a cada dia
Meu olhar é que muda,
Como a luz do sol do meio dia
E a mesma luz do sol, ao poente.
Nunca mais o mesmo prisma
A cada olhar dessa gente.




Indiferenças


A rua se sujeita
A toda sujeira,
Dos pés às almas…
Exposta à leveza dos pés
Que acalma.
Os passos entre portões de ferro
E guias de concreto
Trazem todos os residentes,
Do chão batido ao mármore,
Das entradas suntuosas
À calçada,
Onde gente é gente,
Mais nada.













Se ainda houver
Em mim o grito,
A outra parte silencia…
Pois o ódio que poderia
É menor que o amor vigente.
Se sinto mágoa por alguém
Essa mágoa se dissolve
No que sinto por tantos…
Que a paz que me vive
É verdade perene
E a raiva que teria
É enquanto,
E tudo que vivo cada dia
Não passa do pôr do sol
Desse dia,
Mas a esperança que me vive
Vem de longe e aspira longes…
Mesmo que eu não diga
O que diria,
Fosse tanto.



Poética de anos atrás


Desde que a amanhece
As luzes fazem sua prece…
Já tocam longe os sinos
A acordar mal dormidos,

A praça se enche de vozes,
São os pássaros clareando
Os sons na noite morridos,
De morte natural, já que

Não ouvimos nada de ver,
Antes do clarear os sons,
Nem um gemido, uns ais…

Apenas folhas farfalham
Gotas deixadas entre elas
Nas névoas sob o luar.






Teu outro nome seria terra


Teu outro nome seria terra, homem.
Terra, teu outro nome seria homem.
Assim passamos de terra a flor,
De rancor em alegria
Na hora em que êxtase dor seria,
Porque assim é a natureza nossa
E em todos ao redor, civilizando
Velhas touceiras em doce grama.
Desses queimados feito arruança
Sob o solo e sobre a mesa.
Que outro nome para esse homem
E sua rudeza?











Pares


Eis que te chega
A maturidade…
Ver-te espelho
De todas as idades.
Ver-se perfeito
Nos teus defeitos,
Ver-se no outro
Nos desencontros
Afeito ao último
Desregramento.
Assim ficamos todos,
Muito iguais, amigo,
Quando comparsas
Teu ser comigo.








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