segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

2/1/2017


FELIZ ANO NOVO!!
Até que tudo se torne
Inexoravelmente
Velho outra vez…








As paredes do tempo
Têm janelas profundas
Voltadas por você para
Os melhores momentos…







Desculpas


O Poeta lê outro poeta
E fuma um cigarro…
Seus lençóis dormidos
Na cama desarrumada…
O Poeta lê outro poeta,
Calça seus sapatos gastos,
Esquenta o café de ontem,
Procura pela meia furada,
Preenche um cartão…
De natal? De aniversários?
De lembranças já arguidas.
O Poeta lê outros poetas
Descrevendo suas vidas
Até, Poeta, procurarás
Desculpas noutras lidas?








Os passarinhos são imortais


Vejo-os pela aí
Bicando insetos e grãos
Desde o tempo de em criança,
Meu pai os enxotava
De sua horta
Com camisas penduradas
Nos mourões da cerca…
Meu pai se foi,
Tizinho se foi…
Maria se foi…
Os pardais continuam aqui,
Bicando nas camisas velhas
Insetos atrevidos, nelas.













Sou a ligação entre
A pedra e a flor,
A água límpida de antes
E o podrido de hoje,
A calma das alamedas
E o arremedo delas…
Sou o resultado
Desses alvoroços
Da evolução involuida
Das coisas dos homens.
A figura derrotada
Pela fumaça fabricada,
A voz calada do silvícola
Ante a mão que afaga
E decepa cabeças…
Sou o que me fez a lida
Dos anos martelados
Entre a pedra e flor
Decantados…







Muito aprendi
Com o velho cão,
Ensinou-me coçar
Sem usar as mãos.





Contundências


Os fantasmas
Dos grandes nomes
Perseguem os novos,
Sinto-os nos novos poetas,
Nos novos escritores,
Nos novos políticos,
Com a mesma ênfase
Dos que se foram, os animais,
Uma que
A mesmice das obras,
Os desaforismos…
Como mensurar
Equivalências
Nesse tempo perdido
Na modernidade
Internetizada?
Tenho visto nas bienais
Caixas soltas de areia,
Imagens em espelhos
Como arte genial…
Depois de tantos modismos
Surge a indiscrição descrita
Escatologicamente dita.
FELIZ NOVO ANO!


O que seria novo
Para se chamar de ano novo?
Que se acorde um novo acordo,
Que se descubra que o tempo
Não perdeu tempo, a tempo
De o mundo girar no mesmo…
Que coisas e pessoas funcionem,
Do fluxo da água ao fluxo da fé,
Imantados na mesma ação.
O que seria novo?
Que se acorde novo!
Que se reflita sobre o outro,
Do pássaro da paz ao corvo…
Do ofertório à graça,
Da memória do que passou,
E passa… Que o espelho
Te reconheça como antes,
Fazendo das rugas a vivência
E da convivência a praxe…
E mesmo que demore um pouco,
Que tudo passe… De novo,
Que, enfim, o
 ano é novo!

Sergiodonadio.blogspot.com
Editoras: Scortecci, Saraiva. 
Incógnita (Portugal) 
Amazon Kindle, Creatspace
Perse e Clube de Autores


Nenhum comentário:

Postar um comentário