terça-feira, 18 de agosto de 2015



Pessoas

Vejo passar pela rua
Senhores de toga ou jaleco...
Propagandeando autoridade?
Vejo curvar-se na rua
Pessoas com fome e frio,
Esmagando sua humanidade?
Vejo pessoas passarem vendo
Cães vadios e crianças famintos
E olhando de lado...
Vejo pessoas... Pessoas?
Vultos que se dividem em poderes
E lembro palavras próximas:
Poderes, pobres, podres!
Vagando pela mesma rua
Um senhor em sua cadeira de rodas
Com pernas atrofiadas, ele não pede
Abertamente, estende um papel
Com algumas moedas e espera...
Espera que caiam outras,
Espera que saibam a dor
De ter-se a vida esmagada.



Uma visão do passado        1975


É belo sentir o mundo, enlevado...
Nas cores que não reconheço
Ofuscantemente belas...
Não se mostra todo,
É preciso sensibilidade
Para reconhecer a natureza
Em festa nessa hora da tarde...
Nesse dia vi-me assim,
Como nunca antes, lembrando
O professor do primário
Ensinando solfejos, hinos,
Como parte da história do mundo,
Vendido em cordoagem...
Seria preciso ver o mundo
Como um hino para descegar
O comércio pousado na fotografia
Sem moldura... Senti, nessa vez,
Como é lindo ver o mundo,
Enlevado na ternura...

Sergiodonadio.blogspot.com



Paisagem redesenhada   1975


Quieto entre as coisas,
Sinto-me tão pequeno
Como tudo em volta...
E tudo em volta se avoluma
Para quem olha para si
E se vê pequeno...
Para fazer parte disso,
Com que, queira ou não,
Nos misturamos,
Irmanados pela necessidade
Recitamos a vida,
Puxados pelas orelhas
Como crianças...
Forçados pela palavra
A correr o mundo grande
No sentido grande
De nossa pequenez
Um tanto despercebida
Na formação da paisagem
Do amanhecido...



Júri


O silêncio com que vieste
Foi mais doído que o grito
Que poderia ter emergido
De tua raiva provocativa...
Este olhar acusatório,
Mais que um júri convencido
Da culpabilidade, condena
Com excesso meus desacertos,
Menores que seu jeito
De mostra-los...
Não os saberia grandes
Sem sua presença acusadora,
Sendo júri e juiz de minha pena.
Que pena não nos conhecermos,
Que pena não nos dar-nos bem,
Poderia ter compreendido
Os erros delineados em mim.
Poderíamos ter unido erros
E combinado derrotas
Cabisbaixo em sua fé vencida
Vens como quem não peca,
Primariamente pedir perdão
Pelo mau momento.
É a vida em essência
Os tropeços que ensinam cair...
Vieste tarde para o coração odioso,
A mente castigada é mau juiz.
Que pena não termos nos conhecido
 antes e dado as mãos cuidando
Nossos erros mútuos...
Que pena não termos as mãos
Quando enfraquecidos.
O silêncio com que vieste
Foi mais doído que o grito
Que poderia ter emergido
No abraço desistido.
Que pena...

Nenhum comentário:

Postar um comentário