segunda-feira, 17 de agosto de 2015



Noticioso trágico em 2/2/1976

Que atualidade vejo nos versos 
desse Antonio, o de Castro Alves...
Que dor ainda não foi cuidada:
Ver morrer em cárceres, enlutada,
A voz do povo que ergueu sincera
Em altos brados a dor dessa terra!
Serás, Antonio, ouvido um dia?
Aos gritos a agonia do negro povo
Que traz além pele alvura do céu
Aberto gesto à podridão do lodo!
Será ouvido teu ardor de poeta?
Que o que falaste de seu tempo
Repete-se como o sol na fresta,
Buscando nos gemidos solitários
Abaixo da coberta ensanguentada
Na cela dividida com o sudário
A denúncia soturna desse tempo,
Garganta dilacerada urde questão
Da antiga mágoa revivido o gesto
Do açoite ao renovado dardo.
Que atualidade nesses dados...
O perene motivo do Poeta.

Sergiodonadio.blogspot.com


Tempos mudados


Fim de tarde... Banho...
É tempo de mudar de roupa,
Roupa limpa, novo cheiro,
Ideias para outro jeito...
Fim de ciclo... Ranho?...
Tempo de cansar-se disso
De tomar ou não tomar
O sempre mesmo banho...
De atitude, de conceito,
De viver-se o mesmo jeito
De ontens... Só mais doído,
Menos rígido no flácido sentido
De aceites e comedimentos...
Fins de tardes desse jeito:
Almejar o mesmo sempre...
Diferente... Que não doa,
Que não fira aquém não sente,
Presente ou ausente,
Respeite, que a chapa
Está quente.



Molho


Chegamos a casa cedo,
Trouxemos tomate maduro
E o assunto embromado
Em espaguete ao ponto
E esse papo furado...
E desse papo e molho
Sorvemos a nossa gula,
Uns aprendendo cozinha
Outros cosendo lamúrias...
Fernando com suas piadas,
Marinho com suas queixas,
Um levando saudades
Outro apenas o que deixa.
Visto roupa leve e cinta
Chinelos aberto e sono,
Despeço-me, estou em casa,
Vou tirar minha soneca
Antes que tombe...





Estafetas
Em que momento um objeto é abjeto?
Em que um homem passa a ser inseto?
Tudo que sabemos sobre mente humana
É que quando ela erra não se conserta,
Cheia de razão... Se inflama...
Em que momento a consciência dirá: Não!
Se já nem cobrem as faces quando presos
Grandes homens donos de segredos?
Houve um tempo, saudade, em que se sabia
Quem eram os bandidos da cidade...
Agora não tem alarde que segura a criatura
Que te invade... Fingem-se armados,
e de surpresa levam a boia sobre a mesa,
E zás-trás a sobremesa...
E de sobra deixam o susto como prova.
Em que momento este chamado humano
Tornou-se tão desumano? Quem, sem alarde,
Sem máscara, sem vergonha,
Rouba à criança a pamonha?
Leva a vitrola e te vendem de volta na feira...
Outro, menos cordato, rouba-lhe a fleuma!
O tato, a paciência, ao dizer-se candidato!
Em que era ele pensou-se ileso desse ato?
O que sinto é que vivo no século errado!
Curto essa inveja daquele tempo em que
Não vivi... Quando cuidavam cavalos,
Bondes, estafetas não voavam, não saíam
desgastados com o erário, só o horário...
Não deixo de pensar com meus botões:
Em que quadra picareta se tornou profissão?
Sabe como vejo a história? – Sem memória.
Vejam: num dia europeus invadiam o Brasil,
Noutro dia nos mandam à puta que pariu?
Índios, negros, amarelos, “privilegiados”?
Desde que me sei o branco é o culpado!
Tem boa educação, paga, e faz tudo errado?
As cotas querem igualar em cada estado.
Digo para os meus botões: coitados...
Sergiodonadio.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário