sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Existe na ternura


Existe na ternura
Um pouco de raiva,
Como existe na raiva
Alguma ternura...
Que o nervoso ostenta
Sua fraqueza no olhar
Terno de sua criatura.
O manso, por mansidão,
Faz-se perigoso
Com seu olhar vesgo
De paz que não afronta
O mais nervoso,
Desviando o olhar,
Que apenas a si
Satisfaz.








Cavilhas


Essas migrações forçadas
Em pleno século XXI
Assustam pela insalubridade
Desse ato desesperado
De fugir... Fugir de si mesmo
E do outro, o feitor da sua dor...
Quanto pode um povo
Socorrer outro povo
Da miséria de viver-se?
Ficarão presos às novas correntes,
Da mão de obra escrava
Aos inapetentes.
Essas migrações...
Forçadas a atravessar de novo
O mesmo mar raivoso
Doutras eras... Barcos fugidos
Dessa quimera...
Ah, Antonio, O de Castro Alves...
Até quando
A fome que se crave?

Sergiodonadio.blogspot.com




Pequenas estórias

Pequenas estórias
 Compõem a história...
Pequenas derrotas
Compõem a vitória...
Caminhos diversos
Compõem belos versos,
Ou falsos, ou tétricos...
Quem poderá saber a verdade
Pelas mentiras da história,
Se não o poeta
E a sua sinceridade
Retórica?








Anfíbios


Triste constatação:
Ver a onça desistindo
Do jacaré em plena lagoa,
Saber-se faminta à espera
Da próxima oportunidade...
Assim é que nos vemos,
Famintos de todas as fomes,
Enfrentadas verdades...
Felinos esperançosos
Ou anfíbios amedrontados?
Mas a lagoa é imensa
De oportunidades...







Triagem


Talvez eu saiba
Para aonde correm os rios,
Os medos dos gatos vadios...
A pressa dos corredores.
Talvez eu venha a saber
Os seus valores
Aqui e ali encontrados
Entre gatos e farrapos
Dessa estranha linha
De tempo e hereditariedade,
Sujeitos às novas ideias,
Ou recapagens delas...
Talvez eu pense saber
O que não saiba...
Talvez eu possa prever
O que se salva
Dessa estranha triagem
Que eu não saiba.





No amarelo assustado
De Clarisse Lispector

No amarelo
Assustado das tardes
O macio da certeza
Do vento contrastando
Com a aspereza do pó
Acordado cedo
Da beligerância
Formando
Um grupo perfeito
A assobiar a alegria
Dos momentos
Sobre as pegadas
Do sentimento nos
Vidros de pintura lisa,
Formando o que
Se poderia dizer:
Vida!




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