domingo, 2 de agosto de 2015



A parede


Vendo o reboco
Carcomido ao tempo
Tomo consciência de que
Vou vencendo
Meu próprio tempo...
Vai-se desenhando
Chuva após chuva
Mapas desiludidos
Nos tijolos postos nus
Mostrando ao tempo que
Se vai vivendo neste reboco
O roído tempo oco.











Vez ou outra


Vez ou outra
Nos vemos ainda,
Eu e o menino que fui,
Pedalando sobre bicicletas
Que passam com seus novos
Meninos perpetuando
A sempre mesma festa...
Aquela em que fui crescido
Numa quadra ida às pressas.
Não sem o sentimento da perda
Do imerecido nessa...












Passagem


Descarrego sentimentos
Como um trem de carga...
Vagões de alegria
Vagões de tristeza,
Vagões de saudade das asperezas.
Bebemos o sol da manhã
Em fins de tardes
Como o trem chegando madrugada
Acordando os vizinhos
Com o susto de sua chegada...
Alguém ainda brinca com crianças
Como fossem bonecos...
O trem parte
Deixa uma tarde sem esperança
De madrugar de novo
Descarrego sentimentos
Com a despedida,
Que o trem já foi
O trem já foi
Já foi...




Amanhã, quem sabe...


Amanhã, quem sabe,
O céu seja suficiente
Para chegar ao cume
Da sapiência
E zerar as fomes
E as indecências...
Amanhã,
Quem sabe a vida
Se torne vida realmente,
Entre paradas cardíacas
E isquemias latentes...
Amanhã que sabe
Saibamos por de molho
Nossas ofensas
E pedir desculpas,
Se não ao outro,
A nós mesmos.


Sergiodonadio.blogspot.com

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