segunda-feira, 22 de maio de 2017

Somos todos poetas


Quando vês o florescer
Das rosas… Das crianças…
A procissão das formigas…
Ou notas a aparição
Do inverno nas folhas
Caídas do outono…
Estás escrevendo aí
Seu primeiro poema,
Indubitavelmente!




As vozes gritantes

Todas as vozes são gritantes!
A espera é itinerante
E teima em sair pela tangente…
Como saber no antes
No candidato premente?
Pela fala?
Pela voz que estala o látego?
Pela janela que propõe a luz?
Como, se no momento seguinte
Todos usam a mesma máscara?
Como se rissem de nós,
Não para nós, esses comparsas?
Atrás de cada santo um diabo?
Quando o santo Santo nos
Nos será apresentado?
Atrás de cada terno e gravata
Esperamos um HOMEM
Com suas forças alegadas…
Guardada em nós está essa força!
É preciso que a acordemos
No antes, não no depois!





Vivências


Somos impiedosos!
Somos predadores!
Essas senhoras caóticas
Deveriam ficar
Em suas cadeiras
E não atrapalharem o trânsito,
Esses senhores periféricos
Deveriam ceder
As cadeiras nos bares…
Essas crianças poderiam
Estar mais caladas…
Enquanto pensas assim
Vais envelhecendo
Até se tornar
Esse senhor periférico,
Envilecido? Caótico?
Vivido.








Aquartelados


À certa altura
Não há como fugir desse assunto:
Quando quase tudo que passa
É passado…
O trem de carga passa e apita
Às duas da madrugada.
Faz-me lembrar o trem dos milicos
Com seus bancos de madeira
E acanhados lugares, indefinidos…
E suas trinta horas de suplício.
Uns se deitaram, outros de joelhos,
A viagem até o quartel
Se estende noite adentro
Até o raiar do outro dia
Nesse tempo perdido na memória,
Quando tudo se passa no passado
Enquanto o dia hoje se prende
À esperança.





Enquanto a memória
Colhe as lembranças
A acontecência
Se estende à esperança…



  

Presença Divina


Sinto muito, amigos,
Esses que mandam mensagens
De que Deus mandou-os trazer
As bênçãos à minha pessoa,
Não os vejo assim poderosos,
Olho pela janela de meus olhares
A rua em frente e suas meninas
Cambaleantes nas pedras soltas,
Nelas possa estar a presença Dele.
Pode estar na árvore florada,
No ninho das pardais…
Nas pernas apressadas, sem nexo,
Deus está chegando!
Sinto-O nessas aparições
À minha janela aberta,
Mas não os vejo aí, junto
À flor e as meninas…






Diálogos


Gosto de conversar
Com as palavras,
Elas designam as coisas
E as não coisas.
Fui ensinado,
No primeiro ano de escola,
Que existem o concreto
E o abstrato.
Não sei bem porque,
Mas sempre me dei melhor
Com o abstrato.
Por alguma anomalia,
Nascida comigo?
Vejo o abstrato mais concreto…
Sei não,
Pode que eu seja abstrato,
Por me dar bem com os iguais…
Neste curto espaço
De tempo vida, sete décadas,
Vencida a termo,
Aprendi a respeitar mais
O que sinto que o que vejo
Nessas espirais

De meus desejos



Reativos


Quando passo perto
De um cachorro
Eriçam-me os pelos
Ao medo…
Já tive cães como
Companheiros…
Mas os perdi,
Com a morte deles.
Desde sempre
Alimento esses medos
De cães vadios e homens
Mal encarados, e mulheres
Mal vestidas…
Ou desvestidas
Em suas micro saias.
Todos me fazem medo
Por seus perigos…
De aconchegos.








Relatos



Cá de meu canto
Curto meu desencanto,
Firulas de toda ordem,
Assaltos ao nosso pranto.
Cá de meu canto
Procuro explicar a lógica
À minha indignação…
Que não adianta pirar,
Velho coração…
Estou magoado comigo
Pelo caminho perdido
Entre tantas eleições…
Por que nos sentimos
Tão mais mal do que
Esses canalhas no real?
Questão de ética? Capaz…
Cá de meu canto,
Imerso nessa desiludida
Realidade roubalheira

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