domingo, 13 de setembro de 2015



O porão da serraria

Um lugar sombrio,
Cheio de correias largas
E barulhentas, teias...
Enredadas em pó de serra,
O pó das máquinas amontoando-se
Em carrinhos de mão
E enovelando o ar pesado, frio,
O barulho das emendas das correias
Pulando sobre polias enormes...
O porão da serraria
Era o lugar dos conformes:
Dos dedos decepados,
Das dores nos consertos, e,
Imprevisivelmente, da paz.
Porões que não existem mais...
Cheio de mistérios e o estéreo
Enxurro da seiva juntada ao pó,
Levada ao cérebro...
A fazer dó.


A mó do tempo

Vendo essas rodas d’água,
Figuras bucólicas dos eventos,
Esses traçadores desdentados,
Esses ancinhos mal cuidados,
Esses costumes desacostumados...
A roda funcionando bombas,
A água bombeada à casa,
Os ancinhos despontando pragas,
Os traçadores cortando taboas,
Esses desacostumes letárgicos...
Era de suores sadios,
Chapéus ensebados
E um lenço a limpar a testa
Do suor empoeirado...
Vendo essas rodas sem água,
Figuras de um bucolismo trágico,
Vencido pelas modernidades,
Há de se pensar quanto
O progresso nos atrasa...


Companhias

Estamos aqui
A pensar o quanto vivemos
O passado na mente presente...  
E assim nos presenteamos
Com a lembrança
viva em nós.
Estamos aqui
Ou já saímos daqui?
Na memória de um tempo
Revivido sempre,
Sem nós?


Passos

Temos de vigiar
Nossos deveres e haveres
Emocionais,
financeiros,
Ou simplesmente obrigacionais...
As manhãs são
sempre inícios...
As tardes sempre despedidas.
Então pensemos
Nisso a cada etapa vencida.

Algumas

Algumas causas impossíveis...
Algumas levas são inevitáveis...
Algumas censuras, falhas.
O que fazer com algumas...
Se algumas diferem de diversas
E se comprazem em esconder
Verdades inadiáveis?

Algumas falas imprescindíveis
Vêm à tona na conversa variada...
Algumas alterações, interseções,
Variações das arbitrariedades...
Algumas vezes fenecemos
E estamos aqui, respondendo
Algumas ações passadas...

Algumas coisas cicatrizam,
Outras sangram demais...
Impassíveis ante a verdade
De sorrir para não chorar.
Algumas coisas inaudíveis
Se farão ainda escutar...
Por decididas ficar.
Sergiodonadio.blogspot.com





Castelos de areia

         Esse bombardeamento de recursos impetrados por (caros) advogados das “empresas” denunciadas na operação lava-jato, tentando extinguir processos evidentemente validados por provas, entre elas a mais contundente: a devolução de valores extorquidos, traz à memória o famoso processo da operação chamada “castelo de areia”  operação da Polícia Federal de 2009 que investigou crimes financeiros do Grupo Camargo Corrêa.   o Superior Tribunal de Justiça) considerou ilegal interceptações telefônicas realizadas na Operação Com isso, todas as provas que tiveram origem nas gravações foram consideradas nulas. As ações da operação envolveram políticos, agentes públicos e construtoras suspeitos de participação num esquema de crimes financeiros e desvio de verbas públicas. A maioria dos ministros seguiu o voto da relatora do caso, ministra Maria Thereza de Assis Moura que considerou que a operação começou de forma ilegal, a partir de denúncia anônima. A ministra acolheu o argumento da defesa da construtora Camargo Corrêa, que entrou com habeas corpus pedindo a nulidade das interceptações e de seus desdobramentos. Três executivos da empresa são acusados de crimes financeiros.O desembargador convocado Celso Limongi apresentou voto e sustentou a ilegalidade das provas. a abrangência do pedido provocou uma “verdadeira devassa” na vida dos suspeitos O ministro Og Fernandes foi o único a considerar a operação legal. as gravações não foram motivadas só pela denúncia anônima, tendo em vista que agentes da PF realizaram diligências preliminares antes de pedirem as escutas e a quebra de sigilo dos investigados. Para ele, as investigações da PF também foram provocadas por depoimento do doleiro Marco Antônio Cursini. Na avaliação da relatora, no entanto, a fala do doleiro foi inserida com as apurações já avançadas. As medidas da Castelo de Areia foram suspensas em janeiro de 2010 pelo então presidente do STJ, Cesar Asfor Rocha. O ministro entendeu que seria melhor travar os desdobramentos da operação até a decisão final sobre a validade das provas. Argumentou que o processo contra as empreiteiras causaria “efeitos particularmente lesivos, por submetê-los a processo penal aparentemente eivado de insanáveis vícios”.Esse inquérito da Polícia Federal apura fraudes em concorrências, superfaturamento de contratos e pagamentos de propina, além do uso do dinheiro arrecadado pelo esquema para irrigar o caixa de partidos e mais de 200 políticos.Acontece que essa lavada provocou o Ministério Público e o Judiciário a se adaptarem à complexidade técnica para o novo cenário, bem mais que os escritórios de advocacia, surpreendendo os acusados da lava-jato. Além de contar com uma nova mentalidade dos juízes novos.

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