sexta-feira, 21 de abril de 2017

DAS “CARTAS CHILENAS” DE TOMÁS ANTONIO GONZAGA, Ouvidor de Vila Rica, que em 1792 foi condenado ao degredo por participar da inconfidência, tiro alguns pequenos trechos para vosso julgar da similaridade com a atual Corte Suprema e seus julgamentos:
“O povo, Doroteu, é como as moscas que correm ao lugar, onde sentem derramado o mel, é semelhante aos corvos e aos abutres, que se ajuntam nos ermos, onde fede a carne podre… À vista dos fatos que executa o grande chefe, decisivos da piedade que finge, a gente corre, a ver se encontra alívio à sombra dele. Pois dessa forma entende o néscio, em todos os delitos e demandas, pode de absolvição lavrar sentenças... todos buscam ao chefe serem bem vistos, triste privilégio de mendigos…”
“Ah, tu, meu Sancho Pança, que foste da Baratária o chefe, não lavraste nem uma só sentença tão discreta! E que queres, amigo, que suceda? Esperavas, acaso, um bom governo de nosso fanfarrão? Tu não o viste em trajes de casquilho, nessa corte? E pode, meu amigo, de um peralta formar-se, de repente, um homem sério? Carece, Doroteu, qualquer ministro, apertados estudos, mil exames. E pode ser o chefe omnipotente quem não sabe escrever uma só regra onde, ao menos, se encontre o nome certo?”‘O outro pede que lhe queime o mau processo, onde está criminoso por ter feito o mandado, diz que os herdeiros não lhe entregam o bem deixado, e ralha contra juízes, mortos, que lhe deram sentença e que a fazenda lhe tiraram, quer que o devedor lhe pague logo, outro, para pagar, pretende espera, todos, enfim, concluem que não podem tal demanda, por serem pobres. Lá vai uma sentença revogada, quando já de cabelos brancos, manda que entregue aos ausentes grossa herança” assim vai, de semelhança em semelhança repito: Pode, meu amigo, de um peralta formar-se, de repente, um homem sério?

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