quinta-feira, 2 de abril de 2015



Tempos modernos


Sento à mesa da calçada,
Olhando um casal,
Sentado à mesa da calçada...
Eles tomam sopa,
Molham torradas no caldo
Esfumaçando...

Eles se olham e não se vêm,
              Olham longe...
Num tempo em que eram visíveis,

Apenas estão no mesmo lado
              Da mesa
Mas não estão juntos,

Ele vão chupar o caldo e babar,
Como em mil e novecentos.

Nos mesmos sessenta e tantos
Não me vejo idoso quanto.
-quero uma pizza. Respondo
Ao garçom, que espera,
No pé da idade.


A janela se abre,


Todas as vezes que se abre
Surge
No escuro de dentro,
Um vulto encamisolado,
Que se espreguiça e volta
Para o seu mundinho,
errado.

Olho e acabo pensando:
-que que eu tenho com isso?
Se o vulto retrocedeu
Aos tempos das janelas,
Abertas aos camisolões
 rendados?

Por mim que se vestiu?
Por ela que se despiu?
Estamos em tempos
Trocados...






veracidades


A vida não é pra chorar.
Infância se foi,
Juventude se foi,
Como cavalos em suas corridas,
Nas curvas dos anos.

Pai se foi... Mãe se foi...
Resta um amor esquisito,
Um modo de sentir,
Guardado nos gestos,
Revivendo sentimentos
Que talvez sejam
A dor de amar.

Não sei... Não sei...
Sei que tenho em mim
Todos os meus e
Passo essa verdade
Que sempre me doeu...






Agnóstico


Não tenho pecados?
Mas, não é preciso “tê-los”
Para ser pecador,
É preciso crê-los veros.

E aí
É que não me convence,
Um homem, sacerdote,
Homem como eu, que,
Em nome de Deus
Me redime
Do que se me deu...

O meu Deus,
O que me crê um homem,
Não precisa de intermédios
Para acreditar-me
Se sou Ateu.

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